O que uma conversa no hotel com Rogério Ceni na véspera de decisão com Liverpool 'ensina' sobre final da Sul-Americana

André Plihal
André Plihal

Véspera da final do Mundial de Clubes de 2005. Estávamos no hotel/concentração do São Paulo, em Yokohama, no Japão. Tinha acabado de gravar uma entrevista com o lateral-esquerdo Júnior num quarto usado pela turma da rouparia. No finalzinho da entrevista chega Rogério Ceni para bater papo. Papo monotemático, logicamente: Liverpool, Liverpool, Liverpool. 

Rogério se perguntava em voz alta como conseguiria derrotar o campeão europeu. Time de uma defesa intransponível, não tomava gol havia séculos. Rogério sentou-se no largo parapeito da janela (fechada, claro) e levantou todas as possibilidades de jogo possíveis. 

Com isso, posso garantir a vocês que ele sabia que as chances de ser eleito 'funcionário do ano' no dia seguinte eram enormes. E que as de ser campeão muito pequenas. No fim da conversa, confidenciou ter passado por dois percalços naqueles dias no Japão. Um problema em um dente, solucionado numa visita de emergência a um pronto-socorro dentário, e outro em um dos joelhos, que exigiria uma artroscopia na volta ao Brasil. 

Escrevi um livro (Maioridade Penal, Panda Books) e fiz um filme com Rogério. Conheço o treinador do São Paulo profundamente. Absoluta certeza que ele destrinchou o Independiente del Valle de todos os lados. Pensou em todas as formas de vencer a decisão deste sábado (1º). Mal comparando, desta vez o São Paulo é o Liverpool

Rogério Ceni durante jogo do São Paulo na temporada 2022
Rogério Ceni durante jogo do São Paulo na temporada 2022 Ricardo Moreira / Getty Images

Ninguém aqui é ingênuo ou excessivamente otimista para acreditar numa final tranquila, sem sustos. Podem apostar que o Liverpool também não esperava moleza contra o São Paulo. Não que não pese, mas em jogos assim, favoritismo não define grande coisa. Quer saber, nem mesmo a estratégia adotada é o mais importante. Condição emocional e entrega, com uma pitada de sorte, estão à frente

Rogério Ceni foi o melhor em campo naquela jornada histórica sem estar nas melhores condições físicas. Só que ele condicionou-se a acreditar que dava pra derrotar o forte Liverpool, que nenhuma bola entraria no seu gol. Assim aconteceu. Rogério pegou tudo e numa das raras escapadas, o São Paulo marcou com Mineiro - este, um herói dos mais improváveis. 

A força da arquibancada sempre conta. O Estádio Internacional de Yokohama estava bastante dividido 17 anos atrás, mas só se ouvia a torcida brasileira. O Mario Alberto Kempes, em Córdoba, na Argentina, terá enorme superioridade são-paulina, e o jogo da arquibancada tá mais que ganho. O do campo, não. Longe disso. 

Mas existe um doido competitivo que não aceita cogitar perder. Alguém que possivelmente cumpriria a palavra e largaria o emprego no caso de um revés. Não duvido de nada. Rogério Ceni me ensinou a ser assim na véspera de um São Paulo x Liverpool.

Fonte: André Plihal

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