Lucas Paquetá, jogador do Flamengo, durante a primeira partida contra o Corinthians, válida pela semifinal da Copa do Brasil 2018.
Gazeta Press
O Flamengo lembrou a polêmica contratação do atacante Dimba, em 2004, para responder à Comissão de Inquérito que questiona se a negociação de Paquetá com o Milan foi um mau negócio para o clube. Tido como mau exemplo de transação, o "caso Dimba" serviu como argumentação para responder à pergunta de letra "h" do questionário em que a comissão pergunta se a venda do meia por valor inferior à multa poderia ser considerada uma "renúncia" de valores. A resposta aos 14 questionamentos foi entregue ao Conselho Deliberativo nesta quarta-feira.
"O mencionado jogador não performou o esperado de um atleta com elevado salário (Cf. Relatório de Gestão do FlaFutebol de 2004). Desta forma, o mesmo jamais conseguiria ser transferido para outro clube pelo valor da cláusula penal estipulada. Em menos de 1 ano, Dimba foi cedido ao São Caetano/SP, pelo valor total de R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais). Ou seja, no caso, teria ocorrido, diante da lógica da pergunta, uma “renúncia” de R$9.600.000,00 (nove milhões e seiscentos mil reais), ou 96% do valor da multa prevista na cláusula indenizatória.", respondeu a diretoria em documento.
O exemplo de Dimba é utilizado no documento para dialogar com um dos membros da comissão, Arthur Rocha Netto, então vice-presidente geral do clube na época da contratação.
"Em 2004, o Flamengo contratou o atacante Dimba, por iniciativa do então Vice-Presidente Geral e membro da nobre Comissão de Inquérito instaurada, Sr. Arthur Rocha Netto, cuja cláusula indenizatória equivalia a R$ 10.000.000,00 (dez milhões de Reais). Como é de conhecimento público, a conturbada contratação causou diversos transtornos, incluindo o pedido de demissão de um dos maiores ídolos do clube, o ex-atleta Leovegildo Júnior, além de críticas do maior ídolo da história do Flamengo, Zico, que em carta aberta criticou a ausência de profissionalismo demonstrado na referida contratação."
Na resposta, assinada pelo presidente Eduardo Bandeira de Mello, o clube afirma que os valores fixados em multas rescisórias são uma prática para "proteger" e "balizar" as operações, mas não implicam em recebimento do valor integral. Para atestar essa prática, o clube cita um estudo feito pela FIFA sobre as negociações no ano passado no mundo em que
"apenas 6.7% do valor corresponde ao pagamento das “release (buy-out) clauses”, isto é, das multas previstas na cláusula indenizatória.", afirmam.
Ainda para responder a este ponto, a defesa lista recentes transações de brasileiros para o exterior, em que os valores foram abaixo da multa:
Arthur Melo (Grêmio FBPA -> Barcelona FC)
Multa rescisória: EUR 50.000.000,00 (cinquenta milhões de euros)
Valor da transferência: EUR 30.000.000,00 (trinta milhões de euros) fixos + EUR 10.000.00,00 (dez milhões de euros) em bônus condicionais
Gabriel Jesus (SE Palmeiras -> Manchester City FC)
Multa rescisória: EUR 40.000.000,00 (quarenta milhões de euros)
Valor da transferência: EUR 32.700.000,00 (trinta e dois milhões e setecentos mil euros)
Gabriel Barbosa (Santos FC ->FC Interzionale Milano S.p.a.)
Multa rescisória: EUR 50.000.000,00 (cinquenta milhões de euros)
Valor da transferência: EUR 27.000.000,00 (vinte e sete milhões de euros)
Paulinho (CR Vasco da Gama -> Bayer 04 Leverkusen FG)
Multa rescisória: EUR 30.000.000,00 (trinta milhões de euros)
Valor da transferência: EUR 20.000.000,00 (vinte milhões de euros)
De acordo com informações obtidas pela reportagem, Paquetá foi negociado por cerca de 35 milhões de euros, podendo chegar a 45 milhões de euros, se atingir metas estabelecidas pelo Milan. Sua multa era de 50 milhões de euros. Estes valores não foram discriminados na resposta entregue, mas uma cópia dos contratos será entregue à comissão.
Ao longo do documento, que tem sete páginas, o clube também reitera que nenhuma comissão foi paga na transação de Paquetá, uma vez que o Milan procurou diretamente o Flamengo e que o agente do jogador abriu mão de seus valores. Também voltaram a afirmar que o jogador foi negociado no melhor momento para os cofres do clube, pois entendem que ao fim da próxima temporada, quando o jogador estariam perto do fim do seu contrato (2020), ele poderia deixar o clube por valor menor.
"Dessa maneira, uma possível transferência do atleta Lucas Paquetá no final da próxima temporada, há cerca de um ano do final de seu vínculo com o Flamengo, provavelmente seria feita por um valor inferior ao valor da transferência concretizada junto ao AC Milan SpA."
Orçamento
Algumas das 14 perguntas feitas versavam sobre se a transação prejudicaria o orçamento do clube em 2019, provocando uma "invasão de mandato futuro", antecipando um "recebível que seria devido no futuro".
Para responder a este item, a defesa diz que a transação promoveu uma "invasão de recursos":
"Quanto à suposta “invasão de mandato”, entendemos que a única invasão que ocorrerá ao próximo mandato (triênio 2019-2021) será a “invasão de recursos”, uma vez que mais de 80% das receitas decorrentes da transferência do atleta Lucas Paquetá serão percebidas pela próxima administração do Clube, a exemplo do que acontecerá também com os recursos de parte das luvas (R$50.000.000,00) do contrato de cessão de direitos de transmissão firmado com a Rede Globo no período 2019-2024, fato inédito entre os demais clubes brasileiros que celebraram contratos com o mesmo objeto".
Política
Além de Arthur Rocha Netto, que faz parte da comissão, a defesa cita outro personagem político do clube, Wallim Vasconcellos, candidato derrotado nas últimas eleições.
Foi na resposta aos itens "a, b e c", que questionam o primeiro contrato profissional de Paquetá com o clube, em 2013. Na ocasião, o clube ficou com 70% dos direitos econômicos do atleta, então com 16 anos, e os outros 30% foram repassados para o jogador e seu agente.
Segundo o documento, o Flamengo não recebeu qualquer valor por estes 30% uma vez que a contrapartida recebida foi o jogador ter ficado no clube passando a ser "ativo" do rubro-negro, uma vez que ele estava livre para assinar com qualquer outra agremiação à época.
"Quanto aos detalhes desta negociação, se deveriam ser cedidos 5%, 10% ou 20%, e não 30%, cabe informar que a proposta decorrente da negociação à época, apresentada pelo Vice-Presidente de Futebol, Sr. Wallim Vasconcellos, foi aceita e devidamente formalizada, no âmbito da governança profissional já instituída no Flamengo. Importante ressaltar, ainda, que a referida cessão foi devidamente registrada nos balancetes do Clube, apresentada diversas vezes a esse Conselho Deliberativo quando da aprovação anual das contas e até a presente data nunca havia sido contestada", afirmou em documento.
Para a defesa, a instauração da comissão de inquérito é política:
"Isto posto, fica claro que a instauração da presente Comissão de Inquérito é apenas mais uma manobra eleitoreira do Presidente do Conselho Deliberativo que, por coincidência, é também um dos candidatos à Vice-Presidência Geral do Flamengo, fato que também explica suas recentes declarações públicas irresponsáveis e levianas acerca da honra dos atuais dirigentes do Clube."
O blog procurou Arthur Rocha Netto por meio do presidente do Conselho Deliberativo, Rodrigo Dunshee de Abranches para comentar as afirmações feitas em relação à contratação de Dimba, mas o dirigente disse que o procedimento corre em segredo e não poderia se manifestar.
Também fazem parte da comissão de inquérito os sócios: William Pereira dos Santos e Eduardo Bezerra Carreirão da Silva.
Fonte: Gabriela Moreira, repórter do ESPN.com.br
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