Sobre dívidas, mecenas, irresponsabilidade e transparência
Sinal dos tempos, hoje são poucos os temas capazes de tirar torcedores do sério como ocorre quando se questiona a capacidade de um clube de futebol contratar jogadores sem desequilibrar suas finanças e sem comprometer, pelo menos em tese, o seu futuro.
Como não estamos falando de um país no qual os clubes costumam ser punidos por inadimplência, criou-se no Brasil um fato curioso: torcedores preocupam-se apenas com as finanças dos rivais e nunca com as do seu próprio clube.
A lógica, embora em parte equivocada, é simples: há pouco o que temer. Seja pelo eterno socorro governamental, pela infinita rolagem de dívidas ou pela falta de pulso e critério da CBF ao barrar inscrições de clubes quebrados, a bancarrota não gera temor por suas consequências. É melhor um time forte e um clube quebrado a um clube são com time mediano.
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O clamor pelo Fair Play Financeiro, a contestação sobre o mecenato e o inconformismo com as dívidas têm, para muita gente, uma única função relevante: impedir os adversários de contratar bons jogadores, tornarem-se competitivos e conquistarem títulos. Para os times rivais, a responsabilidade; para o meu time, a ousadia.
“Ousadia” é o termo, porque na esteira da ira dos torcedores surgem teses simplistas (e muito populares, cheias de likes) de que “é preciso investir muito para obter retorno”. De que gastar é necessário para voltar a crescer. Embora a ideia faça sentido em cenários específicos, ela não deveria ser aplicada num contexto de dívidas imorais, prioritárias, por exemplo com assalariados cujas rendas mensais não representam um milésimo da renda mensal do jogador renomado que pode chegar.
Soluções para problemas do gênero, sobretudo nos clubes com enorme capacidade de gerar receita, são inúmeras. Você pode encontrar um mecenas que resolva lhe ajudar e que, contratualmente, esteja disposto a assumir o prejuízo no caso de os planos não darem certo; pode encontrar novos patrocinadores; pode enxugar as despesas, renegociar todas suas dívidas e provar que, sim, será possível pagá-las mesmo contratando alto; pode usar a criatividade para buscar novas receitas; pode fazer muita coisa, muita coisa mesmo.
Seja qual for a solução encontrada, porém, é preciso ser transparente e, dentro do possível, abrir os números, planilhas e planos; explicar com detalhes o que se pretende fazer; apresentar esses planos abertamente àqueles com capacidade de interpretá-los e questioná-los para que, sempre no campo da teoria, o torcedor possa se sentir seguro com aquilo que está sendo feito no seu clube de coração.
Essa transparência, porém, é a última coisa que se exige de um dirigente de futebol brasileiro. Primeiro porque os clubes não pagam, literalmente, por seus erros. E também porque, pelo menos com seu torcedor, estará tudo bem se um novo craque chegar no fim do mês.
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