Embora imparcial, filme sobre Neymar tem pouco a revelar
Ao saber do lançamento de “Neymar, o Caos Perfeito”, resolvi encarar as 2h45 de filme, dividido em três episódios, apenas como obrigação profissional. Primeiro, por certo desinteresse a respeito daquilo que Neymar produz, diz e faz fora dos campos. Segundo, por considerar suspeito o valor jornalístico de uma série produzida com o aval do jogador e, sobretudo, de seu pai.
O segundo motivo, porém, mostrou-se infundado, pelo menos quanto à presença dos episódios negativos envolvendo a carreira e a vida de Neymar: há no filme uma avalanche de críticas e xingamentos de torcedores, muitas opiniões negativas retiradas de programas de TV, um depoimento crítico gravado com Juca Kfouri, o soco no torcedor do PSG, os memes que zombavam de suas simulações. Está tudo lá. Até a denúncia de estupro, que pela inconsistência das acusações poderia ter sido omitida, está presente.
As críticas são ali apresentadas como a força motriz de Neymar. Desde o início do filme, quando o jogador sugere que um compilado delas abra o documentário, a narrativa é a de que sem essas críticas Neymar não teria o tamanho que tem. O mantra adolescente “FODA-SE O QUE VÃO PENSAR DE MIM” é repetido várias vezes pelo atleta, para quem as críticas são sempre insensatas. Ainda assim, elas o motivam, ele diz – e isso lhe basta.
Mesmo que os episódios e opiniões desfavoráveis a Neymar cumpram esta função específica no roteiro do filme, ninguém pode acusar a edição final de omitir, ironizar ou minimizar esses momentos para favorecer o jogador. A falta de isenção ou imparcialidade na abordagem dos temas não é um problema do documentário.
Seu problema é revelar pouco, não surpreender, não apresentar nenhuma faceta ou aspecto até então desconhecido de Neymar. Já cansamos de conhecer o Neymar craque. O baladeiro. O superstar. O moleque. O autossuficiente. E todos eles estão mais uma vez bem retratados no filme.
É até justo ponderar que mostrar muito além disso talvez seja missão impossível diante da superexposição de Neymar: tudo a respeito dele já foi dito, analisado e mostrado, não só pela mídia como em suas próprias (frenéticas) redes sociais.
Há um ponto do filme, contudo, que caberia ressaltar: as passagens que abordam o mundo empresarial em torno do craque. As reuniões nas quais Neymar pai – com enfadonhos clichês corporativos – demonstra deslumbramento com seu papel de empresário acabam por mostrar também, em contrapartida, um Neymar filho cansado disso tudo. Porque, para o pai, a prioridade parece ser a tal “marca” e o futuro de sua empresa após o fim da carreira do jogador.
Percebe-se tensões entre ambos, e a intransigência e incapacidade de ouvir do interlocutor são apontadas pelos dois lados como um problema na relação. É o filho, porém, que em determinado momento admite ser aquele que acaba sempre por ceder para “não entrar em conflito”. São breves diálogos, estes sim reveladores, mas o filme não avança nessa questão que talvez o tornasse bem mais interessante do que é.
“Neymar, o Caos Perfeito” tem suas qualidades, e suas quase 3 horas são um bom passatempo sobretudo para quem curte o personagem Neymar. É muito bem filmado e traz bastidores pessoais (mais) e profissionais (menos) que podem interessar a muita gente. Mas a impressão final é que, a exemplo de seu protagonista, o filme poderia ter sido ainda mais relevante do que é.
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