Orgulho nacional não deveria pautar a discussão sobre espera por Ancelotti
Dentre tantas opiniões a respeito da decisão da CBF de esperar até o meio de 2024 para contar com Carlo Ancelotti como treinador, uma das mais comuns foi a de que uma seleção da magnitude da brasileira não deveria se submeter a isso, seja quem for o nome pelo qual espera.
É como se o fato de deixarmos passar um dos três anos que ainda restam para o início da próxima Copa do Mundo ferisse o orgulho nacional, nos diminuísse.
Não parece lógico ou racional.
O tema pode e deve ser discutido, mas sob aspectos técnicos e não emocionais. A pergunta a se fazer quando falamos da possibilidade de esperar por um treinador deveria ser: com essa espera, as chances brasileiras de conquistar a Copa do Mundo de 2026 (que por aqui é só o que interessa) são maiores ou menores?
Se a espera for por Carlo Ancelotti (e não por um estrangeiro qualquer), a resposta parece óbvia: maiores. Bem maiores.
Não só porque se trata do maior vencedor da história da Champions League, do único técnico a conquistar as cinco principais ligas da Europa ou, mais importante, de um sujeito excelente no relacionamento com brasileiros – hoje respeitado e adorado por membros do atual elenco da seleção como Vinícius Jr., Rodrygo, Militão, Casemiro e Richarlison.
As chances seriam maiores também porque, não sendo Ancelotti, qualquer nome anunciado às pressas neste meio de 2023 não chegaria ao comando da seleção como unanimidade, com o respaldo que qualquer técnico de futebol mereceria no início de um trabalho.
Imaginemos, por exemplo, o bom Fernando Diniz assumindo a seleção. Com uma queda precoce na Copa América de 2024, é difícil imaginá-lo mantido no cargo, o que já colocaria fim ao tal longo ciclo de um técnico que muitos hoje parecem considerar essencial para a conquista da Copa.
Sobre este aspecto, aliás, é bom lembrar: não há, na história dos cinco títulos mundiais da seleção, um treinador que tenha trabalhado em todo o ciclo anterior à conquista – em quatro oportunidades, os técnicos assumiram a seleção um ano antes ou no próprio ano da Copa vencida.
Além disso, falar de “um ano” para um técnico de seleção significa bem menos tempo de trabalho, de fato, com os jogadores: seleções se reúnem cerca de uma semana em cada data Fifa, e seriam seis até quando Ancelotti assumiria. Um ano para um treinador de clube é uma eternidade; para um técnico de seleção, não. Há de se considerar, também, que prospecções e acompanhamentos não precisam de vínculo formalizado e podem ser feitos por terceiros, indicados e orientados pelo futuro treinador.
Some-se a isso o fato de que as Eliminatórias Sul-Americanas são mera formalidade, seja pelo nível dos adversários, seja pela fórmula de disputa – os seis dos 18 jogos que Ancelotti perderia chegando mais tarde não colocariam, por certo, em risco a presença brasileira no próximo Mundial.
Fica, então, a pergunta: se não corremos risco com possíveis maus resultados, se temos chance de contar com o melhor técnico para a seleção, se podemos aumentar as possibilidades de ganhar a Copa, se um outro treinador menos renomado poderia cair até depois do prazo em que Ancelotti se propõe a chegar, vamos mesmo rejeitar essa oportunidade em nome do orgulho nacional? Só porque “o Brasil é grande demais” para esperar treinador?
Não faz sentido.
Se as coisas realmente estão como a CBF diz estar, a preocupação, neste momento, deveria ser uma só: conseguir o mais cedo possível, e da forma mais eficiente, a garantia de que Ancelotti assumirá o compromisso supostamente assumido, e não deixará o Brasil na mão por uma proposta de renovação do Real, por um caminhão de dinheiro árabe ou por um chamado de sua própria pátria para trabalhar na Copa de 2026.
Porque aí sim, em qualquer um desses casos, os defensores do orgulho nacional teriam motivos para se incomodar.
Siga @gianoddi
No instagram @gianoddi
No Facebook /gianoddi
Orgulho nacional não deveria pautar a discussão sobre espera por Ancelotti
COMENTÁRIOS
Use a Conta do Facebook para adicionar um comentário no Facebook Termos de usoe Politica de Privacidade. Seu nome no Facebook, foto e outras informações que você tornou públicas no Facebook aparecerão em seu cometário e poderão ser usadas em uma das plataformas da ESPN. Saiba Mais.