De revolucionário a marionete da Fifa? Wenger topa ser o rosto da Copa bienal
Existe uma Premier League antes e depois de Arsène Wenger. A chegada do francês ao Arsenal, repleto de desconfianças por seu currículo que causava pouca impressão num país pouco propenso a olhar fora de suas fronteiras, marcou o início de uma visão diferente para o estilo de jogo aplicado na Inglaterra e ajudou a puxar a internacionalização do campeonato. Os resultados ruins dos últimos anos não devem apagar todos os feitos da era Wenger, ou a beleza de um time histórico como o dos Invencíveis, que ganhou o título em 2003/04 sem perder uma partida sequer.
Não surpreende, portanto, que um político astuto como o presidente da Fifa Gianni Infantino tenha procurado Wenger para emprestar credibilidade a seus planos de mudanças no calendário do futebol mundial. Se um nome como o francês fala, você se dá ao trabalho de escutar. Talvez o surpreendente seja perceber que Arsène se prestou a este papel. Nesta sexta-feira, em entrevista ao jornal L'Équipe, ele defende de forma entusiasmada a realização da Copa do Mundo a cada dois anos.
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Não é preciso muito esforço para entender por que a maioria das federações aprova a mudança, assim como aprovou o aumento do Mundial para 48 seleções: a Copa é um negócio de bilhões, "generosamente" distribuídos pela Fifa entre seus mais de 200 filiados - os mesmos que votam para escolher quem os comandará. Quem se oporia a isso? Apenas a Uefa, que já tem em sua Eurocopa um torneio capaz de gerar interesse comparável ao do Mundial e dar competição de alto nível às suas seleções. Mas são apenas 55 federações.
Sem mencionar o componente político-financeiro, Wenger aceita vender a ideia como algo positivo para o futebol, como se não fosse um risco a banalização do troféu mais desejado por qualquer criança que chuta uma bola pela primeira vez. E aproveita o exército de ex-jogadores atraído por Infantino para apoiar sua gestão, com nomes como Ronaldo e Kaká, para defender que a comunidade do futebol apoia a mudança. L'Équipe entrevistou outros atletas aposentados para mostrar que não é bem assim.
É verdade que suas propostas não são de todo ruins - condensar o calendário de seleções em janelas menos frequentes e mais extensas, por exemplo, ajudaria a reduzir o volume de viagens transcontinentais que causam tantos transtornos. Também é preciso aceitar que, tal como na implosão da "Superliga", trata-se de atacar o mal menor, mesmo sabendo que o status quo não é o ideal. Mas é difícil acreditar que, em seu tempo de técnico do Arsenal, ele defenderia algo como a Copa bienal.
A Fifa precisa escolher suas batalhas. Realizar a Copa do Mundo a cada dois anos é mais importante que emplacar o novo Mundial de Clubes com 24 participantes, que já poderia ter sido disputado este ano se não fosse a pandemia? Ou trata-se apenas de um elemento de barganha para usar nas discussões de bastidores?
De um jeito ou de outro, Wenger poderia ter poupado sua biografia.
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