Quem não tem mecenas ou patrocínio forte ou não virar SAF, será rebaixado no Brasil
Estamos diante da maior revolução no futebol brasileiro neste século. As Sociedades Anônimas do Futebol (SAF) chegaram para mudar completamente o cenário dos últimos anos e décadas. Clubes importantes que perderam competitividade devem voltar a curto e médio prazo a brigar de novo por objetivos nobres. E times que ficarem parados no tempo, sobretudo sem um mecenas ou um patrocínio forte, serão rebaixados de alguma forma. Ou caindo mesmo de divisão ou perdendo o protagonismo de outrora.
Não tem segredo nem mistério: dinheiro faz muita
diferença no futebol, assim como em toda a sociedade moderna. Quem fatura mais
fica invariavelmente no topo. E recebe ainda mais dinheiro. É uma simples fórmula,
um círculo vicioso. Demorou para o futebol brasileiro perceber esse movimento,
pois, até por questões culturais e históricas, os clubes do país são pequenos
quadros associativos nas mãos de muita gente que lucra com esse sistema
arcaico, seja com ganhos políticos, financeiros ou por puro ego.
Virar empresa não é certeza de sucesso, até porque
empresas quebram mesmo. E os primeiros grandes clubes do país que foram
negociados (Botafogo, Cruzeiro e Vasco) só chegaram a esse ponto por estarem tecnicamente
quebrados mesmo. Foi a forma que encontraram para sair da crise (ou para
crescer na crise, uma velha dica econômica). Exemplos temos de todo tipo no futebol
europeu, mas aqui no Brasil já existem também os cases de sucesso, como o Bragantino,
rapidamente finalista da Copa Sul-Americana após ser adquirido pela Red Bull, e
o Cuiabá, que virou em pouco tempo um clube de Série A e de Sul-Americana.
Athletic Bilbao, Barcelona, Osasuna e Real Madrid foram os únicos clubes na Espanha que não se transformaram em SA. O Bilbao é um
orgulho de sua região, continua aceitando apenas jogadores de origem basca e
luta, basicamente, por algumas copas e para manter o tabu de nunca ter sido
rebaixado. O Osasuna tem um dos mais baixos faturamentos da elite espanhola e,
por isso, tem oscilado entre primeira e segunda divisões nos últimos oito anos.
Os gigantes Barcelona e Real Madrid vivem muito mais do nome e da força que
adquiriram ao longo da história do que dos seus sócios. Foi-se o tempo em que o
Barça não colocava patrocinador em seu uniforme. Foi-se o tempo em que o time
catalão era mesmo “mais que um clube”, pois tem lidado com algumas administrações
nocivas, danosas e nada apropriadas.
Haverá sim no Brasil, como no mundo, protestos
pontuais e alguns mais fortes pela venda de instituições seculares a terceiros que
muitas vezes não possuem ligação nenhuma com os clubes. Isso acontece até mesmo
em times que não adotaram ainda o modelo SAF. A empresária Leila Pereira, que era
patrocinadora e virou presidente do Palmeiras, ajudou o clube a ganhar títulos
importantes nos últimos anos, mas está sendo bombardeada agora simplesmente por contratar
assessor corintiano, por exemplo. Muita gente vai perder poder e espaço dentro
dos clubes com essa terceirização que já virou moda, não será nada fácil para
alguns largar o osso.
O choque de realidade está apenas no começo.
Quem achou que construiria uma hegemonia no país está percebendo que a coisa na
prática não é assim tão fácil como se imaginava. O "Malvadão" Flamengo, batendo
na casa de R$ 1 bilhão de faturamento anual, tem sido superado em torneios por
Atlético-MG e Palmeiras, dois clubes que não viraram SAF mas que possuem
grandes parceiros. Os clubes do Nordeste, de uma forma geral, melhoraram muito
em termos administrativos e estão mais competitivos. Talvez o Fortaleza, que terminou
no G4 do Brasileiro à frente de um Corinthians que investiu em vários reforços
em 2021, seja o grande exemplo desse crescimento. Esse mesmo Corinthians está
tomando chapéu agora do Botafogo na contratação de técnico estrangeiro, no caso
o português Luís Castro. Sinal dos tempos!
John Textor, o empresário norte-americano que adquiriu o Botafogo, já tem experiência no futebol europeu com o Crystal Palace e iniciou uma revolução no Glorioso. Suas ideias e suas ações, incluindo a demissão do técnico que levou o clube para a Série A mesmo com um elenco modesto e o cancelamento do contrato de patrocinadores, causam impacto não só no tradicional clube carioca, mas no futebol brasileiro como um todo. É uma outra mentalidade, uma outra filosofia, um outro tipo de gerenciamento que pode sim encurtar a diferença entre o Botafogo e o Flamengo (que aumentou sensivelmente nos últimos anos). Não haveria outra forma de o clube da Estrela Solitária ser realmente competitivo neste momento da história. Cavani aliás não seria uma estrela solitária como Abreu, seria só parte de um projeto bem maior.
Vimos um abismo recente entre Athletico e
Coritiba, algo que pode ser revertido em breve com a SAF do Coxa. Assistimos
uma ponta de esperança agora para a Portuguesa, seja pela sua boa campanha na
segunda divisão do Paulista, seja pela possibilidade de também ser adquirida
por algum grupo forte. América-MG e Chapecoense também confiam nesse modelo
para subirem de patamar no futebol brasileiro. Não será nada incomum se, em um
curto espaço de tempo, a Série A do Brasileiro ter maioria de times que são empresas. A tendência é essa mesmo, e pior para aqueles que ficarem
presos demais a velhas tradições.
Não é de hoje que o futebol é um grande
negócio. Clubes bem administrados, além de ganharem títulos, também geram
renda, faturam em meio ao sucesso esportivo. O embate entre razão e paixão no futebol
brasileiro será cada vez maior. A camisa cada vez vencerá menos jogos. Não
haverá como ser competitivo sem uma boa estrutura e um bom caixa. Na verdade,
quase nunca foi possível isso, mesmo quando o Campeonato Brasileiro ainda não
era no sistema de pontos corridos. A Bundesliga pode até virar mata-mata agora,
mas o Bayern de Munique continuará sendo o grande favorito para ser campeão alemão,
pois é o mais rico.
Já fiz um post aqui, quando o Ronaldo comprou o Cruzeiro, alertando para as vantagens e os perigos de clubes tradicionais se
venderem, ainda mais de forma desesperada. O tema é amplo e complexo, hoje só
quero festejar mesmo esta nova era do futebol nacional. O Brasil deverá atrair
mais investimento e atenção dos estrangeiros, caminhamos para uma liga mais forte
e mais nivelada por cima (quem sabe independente da CBF). Títulos continentais
e disputa de Mundiais já são rotina para os clubes brasileiros,
justamente por razões econômicas na América do Sul. Quem não melhorar a
administração esportiva, vai ficar com dor de cotovelo acusando o rival de
ganhar apenas porque tem mais dinheiro. Gostem ou não do Chelsea, do Manchester City ou do Paris Saint-Germain, é o que temos para os dias atuais.
Dizem que time grande não cai. Eu digo que
time pobre cai. E que time grande que não se modernizar vai cair sim! Cada vez
mais e cada vez mais fundo.
Quem não tem mecenas ou patrocínio forte ou não virar SAF, será rebaixado no Brasil
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