Onde estão os sindicatos dos jogadores e o bom senso para parar o futebol no Brasil?
Em meio à tristeza de uma guerra na Ucrânia, assistimos nos últimos dias diversas cenas de selvageria e barbárie no futebol brasileiro, com verdadeiros atentados contra jogadores. Uma “simples” bomba atirada contra o ônibus do Bahia, que quase cegou o goleiro Danilo Fernandes, deveria já ser um motivo suficiente para a categoria se unir para parar o futebol de alguma forma. Onde estão os sindicatos dos atletas para defender a classe quando ela é atacada de forma vil e covarde em Salvador, Recife, Curitiba, Porto Alegre e São Paulo, entre outras praças com menos visibilidade? Onde está a união e o bom senso que o Bom Senso (movimento dos atletas do país que durou apenas três anos) pregava? O futebol do nosso país está em guerra também!
Torcedores estão invadindo os campos, até com
faca, para trocar socos com os jogadores. Atacam ônibus do rival e do próprio
time com artefatos capazes de matar mesmo. Tentativa de homicídio, até onde eu
seu, é crime. Eu não preciso dizer aqui que esses terroristas que estão tomando
conta do futebol deveriam ser presos e impedidos de frequentar estádios para
sempre. Eu poderia falar aqui também que aprovo punições severas aos clubes que
protegem de alguma forma esses vândalos, seja com multas, perda de mando, perda
de pontos, eliminação de torneios, rebaixamento, suspensão de competições
futuras etc. Mas meu foco aqui são os atletas mesmo, as maiores vítimas disso
tudo. Eles vão ficar calados diante de tantos atos assustadores?
Os clubes têm responsabilidade total na
proteção de seus funcionários, especialmente os que ficam nessa zona de frente
da guerra que virou o futebol, os que vão a campo e estão mais expostos. As
federações precisam zelar também pela segurança de suas competições e pelas estrelas
principais do espetáculo. A imprensa, além da obrigação de pedir ainda mais paz
no esporte, deve fazer seu trabalho de registrar e denunciar esses casos,
cobrar das autoridades também medidas que acabem com o caos.
Mas e os jogadores? Dei uma olhada no site da
Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol (Fenapaf) e vi que eles
enviaram na sexta-feira um ofício ao governo federal e à CBF pedindo uma “solução
de resgate” para os jogadores brasileiros na Ucrânia. Como sabemos, os atletas
lá estão escapando da Ucrânia por conta própria, saindo em comboio com suas
famílias para alguma fronteira no oeste do país. O atacante David Neres, por
exemplo, saiu para se defender na Romênia. Viralizou o vídeo dele com uma mala caminhando
para atravessar a fronteira, um jogador que frequenta a seleção brasileira virou
um refugiado.
Cenas e histórias de drama de alguém que alcançou
o sonhado futebol europeu, onde os sindicatos brasileiros de jogadores pouco podem
agir. Não achei nada no site da Fenapaf sobre os atentados cometidos aqui no
Brasil contra os seus atletas. Temos os sindicatos estaduais também e dei uma
olhada no site da entidade que deveria defender os jogadores profissionais do Estado
de São Paulo. Para a minha surpresa (ou não), Rinaldo Martorelli continua na
presidência mesmo após tanto tempo e após tantos escândalos. Mais de 200
jogadores, em ação coletiva, pediram o afastamento de Martorelli, mas não foram
atendidos. Mais uma vez, estão sozinhos nessa batalha. Não conseguem e não têm força
nem mesmo para escolher seu líder sindical.
Os jogadores de futebol ainda não entenderam exatamente o poder e os direitos que possuem. Atletas que não recebem salário em dia (algo que virou banal e “comum” no Brasil, assim como a violência) devem mesmo, em algum momento, denunciar os seus superiores caloteiros. Sete jogadores do Avaí não tiveram medo e acionaram o STJD denunciando o clube catarinense, que poderia ter seu acesso à Série A do Campeonato Brasileiro comprometido. Infelizmente, ações desse tipo são raridade no país. Normalmente, os atletas costumam tomar atitudes apenas de forma isolada, no final da carreira ou quando já estão desligados de um determinado clube com quem têm pendências financeiras vultosas.
Em outros países, inclusive aqui na América
do Sul, vemos uma união e uma luta muito mais forte por parte dos atletas e dos
sindicatos que os representam. Não tenho dúvida de que o futebol teria parado
na Argentina e no Uruguai se acontecessem tantos ataques a atletas, em um curto
espaço de tempo, como vimos no Brasil na semana passada. E a onda de violência
aqui passa também por vários casos de intolerância, muitos episódios de racismo
(que é crime), torcedor com símbolo nazista e por aí vai.
Sinceramente, o futebol no Brasil precisa
parar. E não só para refletir. A única boa notícia do Gre-Nal é que não houve
jogo após o atentado contra o ônibus gremista, lembrando que, de forma absurda,
aconteceu a partida do Bahia na Copa do Nordeste após a bomba arremessada
contra o ônibus do time. O futebol ficou parado um bom tempo por causa da pandemia,
vimos muitos jogos sem torcida nos últimos dois anos, esperávamos que a volta
do público aos estádios seria motivo de muita alegria. Só que não. Jogadores (e
treinadores) são hostilizados, ofendidos e estão colocando suas vidas em risco
até mesmo no início da temporada no Brasil, quando temos os Estaduais e jogos
de menor importância. Se está assim agora, imagina o que nos espera quando
chegarmos às decisões dos principais campeonatos?
Sei que já teve rebaixamento de time tradicional
em Estadual neste ano, caso do Paraná no fim de semana. Mas quem foi rebaixado com
aquela insana invasão a campo na Vila Capanema foi o futebol brasileiro, a sociedade,
a civilização, a humanidade. Jogadores sendo acuados em seu ambiente de trabalho
porque não alcançaram um resultado, como se derrotas e insucessos não fizessem
parte do esporte. Veremos já nos próximos dias uma série de clássicos país
afora (já marcaram data para o novo Gre-Nal, que nem deveria acontecer, na
minha opinião). A chance de mais violência é considerável, pois aquela sensação
de impunidade continua firme e forte no nosso país.
Passou da hora de o governo tomar medidas
mais fortes para mudar o cenário atual do futebol brasileiro. Assim como defendo
bastante o modelo inglês de calendário e de organização (a liga independente da
CBF que um dia pode ser criada no país podia muito bem dar um Control C +
Control V no regulamento da Premir League), não vejo mais outro caminho a não
ser algum Relatório Taylor no Brasil. Nada menos do que uma verdadeira revolução
na forma de ver e torcer, algo que mudou radicalmente a cara do futebol na
Inglaterra. E quem mais devia brigar por essa mudança drástica de normas e comportamentos
são os atletas.
E aí, jogadores? O grupo está unido mesmo ou
não?
Onde estão os sindicatos dos jogadores e o bom senso para parar o futebol no Brasil?
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