As várias razões que fizeram o Liverpool ser o clube mais legal do mundo atualmente
Sem clubismo e sem bairrismo, qual é o clube
de futebol mais legal do mundo atualmente? Difícil mesmo não dizer Liverpool. Tentarei
elencar aqui os vários motivos que fazem do time inglês o mais bacana e
admirável nos tempos atuais, contrariando o que foi visto durante várias
décadas, por culpa ou não dos Reds.
Vou começar pelo treinador. Quem não adora o
Jürgen Klopp? Está para nascer ainda um alemão mais simpático do que ele. Mesmo
os que dizem que Guardiola é o melhor técnico do mundo se derretem pelo boa
praça que comanda hoje o Liverpool. “Eu adoraria tomar uma cerveja com o Klopp
ou convidá-lo para um churrasco”, escuto aqui e acolá. Se todo mundo odeia o
Cris, todo mundo ama o ex-técnico do Mainz e do Borussia Dortmund. Ele cria uma
conexão fácil e calorosa com os torcedores dos clubes que dirige, aliás ele escolhe
os times em que trabalha também por causa da arquibancada, ele não curte times
e torcidas artificiais.
Na esteira desse carismático treinador, o estilo
de jogo do Liverpool é puro entretenimento. Uma equipe ofensiva, direta,
objetiva, contundente, ação sempre garantida. O melhor ataque da Premier League não é o Manchester City de Guardiola, que curte jogo de posição e um domínio do
jogo pautado bastante pela posse da bola. Klopp foi influenciado pelo pressing
do fabuloso Milan de Arrigo Sacchi e já declarou que seu time pratica um
futebol “heavy metal”. O termo gegenpressing é o que mais se aplica ao tipo de
jogo do Liverpool, uma corrida frenética para recuperar a bola logo após a sua
perda. Alguns dizem que é o contra-ataque do contra-ataque. Um time que esbanja
intensidade.
Eu já vi gente ficar encantada e entediada com o Tiki-taka ou com os times que fazem da esmagadora posse de bola uma obsessão, um troféu. Amo o Cruyff e entendo a lógica de que joga quem tem a bola. Guardiola é cruyffista e elevou esse conceito neste século. Só que Klopp e seu jogo mais elétrico parece ter menos rejeição. A tática do alemão é mais emocional, proporciona mais trocação. Se pudesse comparar com MMA (e eu não entendo nada de luta), os times que trabalham com paciência a bola seriam os lutadores especialistas no solo, aqueles que travam o oponente e o finalizam em algum momento sem permitir quase nada ao rival. Muita gente prefere a luta em pé, mais franca, com golpes mais escancarados. O risco e o desgaste são maiores, mas há mais show, talvez isso seja o que torna os times de Klopp, cheios de energia e atitude, tão agradáveis, tão envolventes, tão legais.
Ainda ficando na bola, o Liverpool tem no seu elenco jogadores de 17 nacionalidades diferentes. Tem gente que se sente representada no time na África, na Ásia e na América Latina. Conta com um egípcio que briga para ser melhor do mundo, um ídolo no chamado Mundo Árabe. Possui um outro atacante de alto nível que é o craque da melhor seleção africana (Senegal). Mané carrega muito do talento da África subsaariana, é um exemplo de humildade, uma pessoa simples e admirável. Praticamente ninguém custou uma fortuna. Alisson, goleiro brasileiro que superou um drama familiar com heroísmo não faz tanto tempo, e Van Dijk, o capitão e xerife holandês que é rotulado como o melhor zagueiro do mundo, chegaram basicamente ao clube porque Philippe Coutinho saiu para ao Barcelona e rendeu uma bolada ao Liverpool. As contratações feitas pelo clube nesta era Klopp são cirúrgicas, certeiras, não há uma busca por Messis, Cristianos Ronaldos, Neymares, não há megalomania nem egos.
Os laterais titulares são de altíssimo nível
e figuraças, tanto que Alexander-Arnold e Robertson fazem sucesso em um programa
mostrando entrosamento dentro e fora de campo. Arnold, assim como Keita e Mané,
já sofreram com insultos racistas em mídias sociais, e o Liverpool entrou forte
na luta contra o racismo e outras formas de preconceito, abraçando o projeto
Red Together. O elenco tão diverso e globalizado do Liverpool se sente bem e
respaldado pelo clube e por seu treinador tão humano. E essa atmosfera está visivelmente
espalhada para os torcedores do time.
A cena em Anfield no minuto 7 no clássico contra
o Manchester United está na história do esporte, não só do futebol. Homenagear
o craque e ídolo do maior rival que perdeu um filho foi uma das mais belas
demonstrações de solidariedade já vistas em qualquer época. CR7 e sua família já
agradeceram a lembrança, e o mundo todo reverenciou a iniciativa da torcida dos
Reds, que, como de costume, lembrou com carinho neste mês de abril das 97
vítimas fatais da tragédia de Hillsborough, que tanto marcou o clube. Culparam inicialmente
os torcedores do Liverpool por aquela tragédia, mas o tempo e a luta dos Reds
provaram que as causas do triste ocorrido foram a superlotação, o péssimo
estado de conservação do estádio e a decisão equivocada do responsável pela
segurança na partida, que abriu uma entrada de forma indevida e arriscada que
resultou na morte direta das pessoas.
Nos anos 80, com o hooliganismo vivendo um período bastante acentuado, a torcida do Liverpool ganhou fama de violenta. A Batalha de Heysel em 1985, na Bélgica, manchou a imagem do futebol inglês e, sobretudo, dos Reds. Um saldo de 39 mortos e 600 feridos na final da Copa dos Campeões entre Liverpool e Juventus resultou na exclusão dos clubes da Inglaterra de todas as competições continentais por cinco anos. Quando quatro anos depois aconteceu a tragédia de Hillsborough ficou fácil para quase todos, especialmente o governo, apontar o dedo e a culpa para os torcedores do Liverpool, sobretudo os que gostam de bebidas alcoólicas. Naquela época, satanizar o Liverpool era algo comum dentro e fora do Reino Unido. E o clube, que era dominante na Inglaterra em termos de títulos nacionais e internacionais, despertava um ódio natural nos rivais por conta de seu sucesso.
O cenário mudou completamente na era Premier
League, que começou na temporada 1992/1993. O Manchester United criou um império
e ultrapassou incrivelmente o Liverpool em títulos ingleses, vivendo seu auge
na longa e gloriosa gestão de Sir Alex Ferguson. O Campeonato Inglês e seus estádios
viraram modelo para o mundo. O respeito pelo esporte e pelo jogo, as ações e as
preocupações da liga mais globalizada do mundo, a abertura do mercado para jogadores,
treinadores e empresários uma série de fatores, etc. A Premier League se
transformou em um grande sucesso, mas relegou o Liverpool a um segundo plano
durante muito tempo. O antigo rei da Inglaterra viveu nesse período muito mais
da paixão de sua torcida do que pelos títulos. A tão sonhada taça da Premier
League veio apenas em 2020. Foram 30 anos de espera vendo Ferguson, Wenger,
Mourinho, Guardiola e outros doutrinando à frente de outras camisas. Uma
torcida orgulhosa passou a ser sofrida, e aquele tropeço de Gerrard em um duelo
decisivo contra o Chelsea retrata bem a frustração de gerações de Reds. “Modinhas”
ridicularizando o “Loserpool”. Meme sem fim.
O Liverpool conseguiu brilhar aqui e ali em
copas nas últimas três décadas, fez alguns milagres, como o de Istambul, mas
ser o maior protagonista de seu reino parecia algo impossível até a chegada de
Klopp. Sempre tinha alguém com mais dinheiro ou mais craques ou mais treinador para
superá-lo. Nem fazendo incríveis 97 pontos no campeonato era possível conquistá-lo.
Certamente o Liverpool atual, assim como o de 2019, vai superar a casa dos 90
pontos na Premier League, mas talvez isso não basta para superar o City de Guardiola.
Só que um troféu bem valioso já está garantido para os Reds nesta temporada, e
não me refiro à Copa da Liga (vencida contra o Chelsea), à Copa da Inglaterra (haverá outra final contra o Chelsea) ou à Champions League (fará semifinal contra
o Villarreal). Guardiola, o técnico mais influente deste século, reconheceu o tamanho
do adversário.
“O Liverpool é uma das melhores equipes da
história do futebol, uma das melhores de todos os tempos”, afirmou agora o treinador
espanhol, um defensor do bom futebol. Ele não conseguiu vencer o Liverpool
nesta temporada e acabou eliminado da FA Cup pelo time de Klopp, contra quem leva desvantagem
no confronto direto. Guardiola pode até ser campeão da Premier League (basta
vencer seus jogos) e ganhar enfim a Champions sem Messi, Xavi e Iniesta, mas
ele admira ao extremo o que o Liverpool pratica. Não só pelos resultados (o
técnico do City acredita que os Reds vão ganhar todos os jogos até o fim da
Premier League), mas sim pelo desempenho, pela atratividade, pelo
entretenimento, pela beleza.
Assim como muita gente, eu acho “You’ll Never Walk Alone” o melhor hino de um clube ou uma torcida. É uma canção composta em 1945, consagrada em 1963 por Gerry & The Pacemakers, cantada com o coração pelos Reds e que inspira muitas pessoas mesmo fora do esporte, sendo um ótimo combustível para superar momentos difíceis. Nesta semana, Cristiano Ronaldo teve que enfrentar uma tragédia pessoal (eu também passei pela perda de um bebê com a mãe dos meus filhos e entendo o que ele está passando). Mesmo sendo uma lenda do Manchester United, é momento para ele entender bem o significado e o tamanho da música que embala o Liverpool, desde já seu rival mais querido. O craque português agradeceu em suas mídias sociais a tocante homenagem que ele recebeu em Anfield.
Não dá para ficar insensível diante de tudo o que o Liverpool tem
proporcionado dentro e fora de campo. CR7 e Guardiola que o digam!
As várias razões que fizeram o Liverpool ser o clube mais legal do mundo atualmente
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