Aproveito a Copa do Brasil cheia de duelos estaduais para lembrar que em clássico não se poupa

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

Em todo lugar do mundo, clássico é um jogo especial, é um duelo diferenciado que mexe demais com os torcedores, é um confronto lembrado por décadas às vezes, é motivo de piada e provocação no trabalho, na escola, na faculdade, no bar, na rua, na praia, nas mídias sociais etc. A vitória vale muito mais do que os três pontos, e a derrota dói mais do que um tropeço comum. Todo mundo sabe isso tudo que eu escrevi, mas parece que alguns profissionais do futebol relativizam isso ou pouco ligam para isso.

Rogério Ceni não garantiu força máxima contra o Palmeiras nesta quinta-feira pela Copa do Brasil porque tem jogo no domingo pelo Brasileiro contra o Juventude. O treinador são-paulino transferiu para a diretoria a responsabilidade de “arriscar tudo” contra o rival alviverde no meio da semana. Se eu fosse diretor, eu mandaria Rogério fazer o possível e o impossível para vencer o time que bateu no São Paulo, com requintes de crueldade, na final do Campeonato Paulista e na última segunda-feira no Morumbi pelo Brasileiro. Mas e se alguém se machucar ou se cansar nesta quinta-feira? Paciência, faz parte do futebol e do esporte. Mas e o duelo contra o Juventude no fim de semana, duelo em casa contra time da zona do rebaixamento? Importa muito menos para o torcedor são-paulino do que qualquer Choque-Rei. Quero acreditar que Rogério apenas se perdeu nas palavras após levar a virada no Morumbi na última segunda. Por mais que ele priorize o Campeonato Brasileiro, não é possível que ele não tenha a exata noção do valor do clássico para os tricolores.

         

    


Eu critiquei Crespo quando ele poupou jogadores contra o Corinthians em Itaquera no Paulista do ano passado. Na ocasião, ele priorizou o confronto contra o Racing na fase de grupos da Conmebol Libertadores e desperdiçou grande chance de quebrar o tabu são-paulino no estádio corintiano. O Timão de Vagner Mancini estava muito enfraquecido, e seu treinador acabou caindo pouco depois. O São Paulo, posteriormente, usou reservas nos três últimos jogos da fase de grupos da Libertadores, conseguiu a classificação sem muito problema e eliminou o próprio Racing nas oitavas. Como Crespo ganhou o Paulista e tirou o São Paulo da fila, muitos entenderam que ele fez o certo em poupar naquele clássico. Mas vai falar isso para a Independente e para outros milhões de são-paulinos que não aguentam mais jogar em Itaquera e não vencer. Dava tranquilamente para dar o máximo contra o Corinthians, avançar na Libertadores e ainda conquistar aquele Estadual.  

 O mesmo raciocínio vale para Abel Ferreira. Eu fui um dos poucos que o criticaram por ter colocado time reserva contra o São Paulo na reta final do Brasileiro do ano passado. Era um jogo no Allianz Parque lotado com cara de despedida do time antes da final da Libertadores, e havia ainda outros dois confrontos depois antes da decisão continental contra o Flamengo. O plano do Abel foi usar reservas em casa em um clássico e levar o time principal no fim de semana para enfrentar o Fortaleza no Nordeste. Como o Palmeiras conquistou o bicampeonato da Libertadores (venceu na prorrogação com falha de Andreas Pereira, e poderia ter perdido no tempo normal se Michael não falhasse em uma finalização no fim da partida), as escolhas de Abel foram elogiadas. Só que o Flamengo também poupou titulares contra o Corinthians na semana anterior à final e perdeu a decisão da Libertadores.

O resultadismo coroou o plano do Abel de usar reservas contra o ameaçado Tricolor. O estrategista português e seu time tiveram a rara e histórica chance de rebaixar praticamente o São Paulo para a segunda divisão, porém entenderam que isso não teria muita importância. Por mais que todos os palmeirenses amem, com razão, seu treinador, alguns que eu conheço não concordaram com essa “ajuda” que ele deu para um rival. E esses também têm razão, a meu ver. Ganhar a Libertadores é mais importante do que rebaixar um rival, mas dava, sim, para ter os dois prazeres. O Palmeiras tem levado boa vantagem sobre o São Paulo desde 2015, sobretudo nos jogos no Allianz Parque. Em quase todos os triunfos alviverdes no Choque-Rei, os palmeirenses lembram da frase desastrada de Carlos Miguel Aidar, ex-presidente tricolor que, em meio às bananas que comia, falava do “apequenamento” do Palmeiras. Rebaixar o São Paulo seria uma excelente resposta para essa tolice dita com soberba pelo cartola são-paulino.

Outro técnico português chegou ao Brasil e poupou logo de cara em clássico. Vítor Pereira, comandante do Corinthians, teve a coragem de tirar o pé em um Derby. O Palmeiras, que já era favorito, venceu o mais tradicional clássico paulista com autoridade. Cobrado pela decisão de usar alguns reservas contra o maior rival, Vítor se defendeu dizendo que sabe o que é um clássico porque participou de vários. Ele de fato treinou até o Fenerbahçe, mas será que na Turquia a torcida de seu time aprovaria formação reserva contra o Galatasaray? Duvido muito, mesmo que tivesse depois uma partida por torneio internacional. A desculpa de Vítor Pereira para entrar sem força máxima diante do Palmeiras foi um duelo da fase de grupos contra o Boca Juniors pela Libertadores. Não dava para usar força máxima nos dois jogos? Quando tem Real Madrid x Barcelona antes de rodada da Champions League os dois gigantes espanhóis usam reservas? Claro que não! O Rangers se matou para ir à final da Europa League na última temporada, mas sem aliviar jamais para o Celtic.

Citei três casos de treinadores estrangeiros que pouparam em clássicos paulistas nos últimos tempos. Alguém pode dizer que eles não conheciam bem as nossas rivalidades locais, outros podem afirmar que eles são bons demais e têm planos melhores do que os técnicos brasileiros. O fato é que vem agora Rogério Ceni, à frente do seu amado São Paulo e preocupado com o calendário, dando mostras que pensa mais no Juventude em mais uma rodada do Brasileiro do que em um mata-mata contra o Palmeiras no único torneio importante que ele e seu clube jamais venceram. Quanto vale financeiramente chegar às quartas de final da Copa do Brasil? Certamente mais do que o São Paulo vai lucrar na partida contra o Juventude. Muito mais que isso, quanto vale para o são-paulino não ser humilhado de novo pelo Palmeiras e talvez, quem sabe, ter o gostinho de eliminar o badalado rival que é o melhor da América atualmente? Há coisas que não têm preço. Clássicos são assim, valem muito mais do que aparentam.

Rogério Ceni, técnico do São Paulo, está na dúvida se arrisca tudo no clássico contra o Palmeiras, que já poupou contra o rival tricolor e o ajudou a não ser rebaixado
Rogério Ceni, técnico do São Paulo, está na dúvida se arrisca tudo no clássico contra o Palmeiras, que já poupou contra o rival tricolor e o ajudou a não ser rebaixado Gazeta Press

 

As oitavas de final da Copa do Brasil apresentam, além de São Paulo x Palmeiras, outros vários clássicos estaduais: Atlético-GO x Goiás, Fortaleza x Ceará e Corinthians x Santos. Imagino que ninguém vai tirar o pé nesses confrontos, e o mesmo vale para Atlético-MG x Flamengo, um dos maiores clássicos interestaduais do país. Perder de rival acontece e torcedores até entendem isso devido às situações e às fases de um e de outro, mas beira mesmo o incompreensível não dar o máximo em duelos tão significativos. Aliás, até mesmo em uma goleada sobre o rival, é possível lamentar quando a equipe tira o pé e não faz mais gols, não faz ainda mais história, não humilha ainda mais o adversário. Espero não ter que fazer outro post sobre esse tema. Sinto que estou escrevendo o óbvio ao afirmar que em clássico não se poupa.

 

 

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Holanda faz a pior partida desde a volta de Van Gaal e confirma não estar mesmo entre as favoritas

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

A Holanda venceu o Equador por 1 a 1. Essa é a verdade. Se contra Senegal, na estreia, a seleção laranja não mereceu vencer, desta vez, contra o valoroso adversário sul-americano, seria bem justa uma derrota holandesa. Houve uma polêmica anulação de gol do Equador no primeiro tempo, mas nulo mesmo foi o futebol do time de Van Gaal. O técnico mexeu no time em relação à estreia, colocando o titular Timber na zaga pela direita no lugar de De Ligt. Também começou com Koopmeiners e Klaassen no meio, sendo que o autor do segundo gol contra Senegal se apresentava às vezes como um falso 9 e até participou assim do belo gol de Gakpo. A vantagem holandesa no placar veio logo no sexto minuto, o que deveria tranquilizar o time favorito do Grupo A. Mas o que se viu foi uma equipe que recuou, pouco funcionou e viu a seleção equatoriana dominar e finalizar seguidamente.    

Prova da fraqueza ofensiva da Holanda está no número de finalizações: apenas duas, a do gol de Gakpo e uma para fora de Koopmeiners no segundo tempo. Nunca antes uma seleção europeia havia finalizado tão pouco em jogo de Copa do Mundo (essa estatística começou a ser feita em 1966). A Holanda tomou o empate no começo do segundo tempo, com Enner Valencia aproveitando rebote do goleiro Noppert, enfim vazado. A Holanda não levava gol em Copas nos quatro jogos anteriores (0 a 0 contra a Costa Rica e a Argentina, 3 a 0 no Brasil e 2 a 0 em Senegal). Se tivesse vencido o Equador, a Holanda completaria oito vitórias seguidas em fase de grupos do Mundial, o que seria um recorde. Só que o empate acabou sendo um grande lucro para a seleção laranja, que continua em primeiro lugar na chave e pode até fazer saldo de gols na última rodada contra o eliminado Qatar.      

Memphis Depay, que jogou só meia hora na estreia e 45 minutos no segundo jogo da Holanda, não está 100%, assim como o time de Van Gaal
Memphis Depay, que jogou só meia hora na estreia e 45 minutos no segundo jogo da Holanda, não está 100%, assim como o time de Van Gaal Getty Images

Memphis Depay começou no banco de novo e desta vez jogou 45 minutos (foi meia hora apenas na estreia). Se contra Senegal ele ajudou a melhorar a parte ofensiva da Holanda, diante do Equador ele teve uma fraca atuação. Segundo maior artilheiro da Holanda na história, Memphis é o melhor jogador de ataque da equipe, mas vem se recuperando de lesão. Eu, particularmente, não confio muito em Memphis, ele fez uma Eurocopa fraca e parece ser bastante instável, oscila mais do que um craque deveria. Bergwijn, atacante do Ajax que é o principal parceiro de ataque de Memphis, está em uma fase ruim, como já admitiu Van Gaal. Janssen, que foi mal na estreia, Weghorst, que entrou e pouco fez diante do Equador, e Luuk de Jong, são centroavantes pesadões que não contribuem muito para a criação, para o jogo vistoso que muita gente espera da Holanda. Van Gaal levou para a Copa do Qatar o Noa Lang, de 23 anos, e o Xavi Simons, de apenas 19 anos. Talvez eles seriam a chance de a Holanda fazer fumaça.

Van Gaal não abre mão do sistema de três zagueiros, que não agrada muito a Van Dijk. O beque do Liverpool tem nesta Copa um grande parceiro que é Aké, um dos poucos que se salvaram na Holanda no 1 a 1 contra o Equador. Ele tem se saído bem na defesa e quando arranca pela esquerda para o ataque. Gakpo, com dois gols, é o grande nome da Holanda até aqui no Mundial. Um belo gol de cabeça, que não é sua especialidade, e um chutaço de canhota foram o começo dele no torneio no Qatar. Van Gaal apostou alto, literalmente, no goleiro Noppert (com 2,03 m é o jogador mais alto da Copa), mas mantém dúvidas na defesa, no meio e no ataque. O elenco não é dos melhores, embora o técnico tenha dito que este grupo é melhor, na média, do que aquele que ficou invicto e saiu em terceiro lugar da Copa do Brasil em 2014.

A Holanda deve passar em primeiro lugar em seu grupo e pegar nas oitavas de final os Estados Unidos ou o Irã. Creio que o time laranja entrará no mata-mata com favoritismo, mas não será uma grande surpresa para mim se cair logo nas oitavas, coisa que aconteceu na última Eurocopa diante da República Tcheca. Caso avance e pegue uma seleção mais forte, deverá sofrer ainda mais do que já sofreu diante de Senegal e Equador. Se no passado a força da Holanda estava no ataque, agora a única esperança é a defesa. Sinal dos tempos para o futebol que revolucionou o mundo com o futebol total. A Holanda não parece a Holanda nesta Copa nem mesmo em seu uniforme, meio amarelado.   

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Holanda, que muitas vezes encantou e não levou, estreia na Copa do Mundo vencendo sem convencer o forte Senegal

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

Quantas e quantas vezes a Holanda merecia vencer e bateu na trave. Na estreia da Copa do Mundo do Qatar, o roteiro foi invertido: a sempre atraente seleção laranja venceu sem convencer. Senegal, mesmo sem Mané, cortado do Mundial por lesão, foi o time mais perigoso na maior parte da partida, que decepcionou bastante na parte técnica. A seleção campeã da África dividiu a posse de bola com a rival europeia (44% a 45% para o time laranja, com 11% de posse em disputa, novidade estatística da Fifa) e teve mais finalizações no jogo: foram 14 tiros a gol contra 9 dos vencedores. Na questão pontaria e eficiência, melhor para os três vezes vice-campeões mundiais. Os dois times acertaram a casinha três vezes, e em duas dessas oportunidades Gakpo e Klaassen balançaram as redes.     

Louis van Gaal completa agora 16 jogos no comando da Holanda desde sua volta à seleção. O 'General' está invicto nesta nova passagem, lembrando que ele saiu sem derrota da Copa do Mundo no Brasil (5 vitórias e 2 empates), quando caiu na semifinal. São quatro partidas seguidas de Mundial para a Holanda sem levar gol agora (0 a 0 Costa Rica, 0 a 0 Argentina, 3 a 0 Brasil e 2 a 0 Senegal). Defensivamente, a Holanda está firme, jogando com três zagueiros e se fechando com linha de cinco atrás. O técnico optou na estreia por De Ligt no lado direito da defesa. O titular seria originalmente Timber, que não está em grande fase com o Ajax, e a parte física e aérea de Senegal pesou também para a escalação de De Ligt, que levou um cartão amarelo e pode voltar para a reserva contra o Equador.

SENEGAL 0 x 2 HOLANDA: ASSISTA PELA ESPN NO STAR+ AO COMPACTO DO JOGO COM NARRAÇÃO DE RÔMULO MENDONÇA E COMENTÁRIOS DE RODRIGO BUENO

O capitão Van Dijk, que não pôde usar a faixa com a mensagem “One Love” em apoio à causa LGBTQIA+ (a Fifa disse que ele receberia cartão amarelo se fizesse isso), foi bem das disputas por cima tanto na parte defensiva quanto ofensiva. Foi a primeira partida do zagueirão do Liverpool pela Holanda em torneio de primeira grandeza (inclui Copa do Mundo e Eurocopa). Mas quem foi bem mesmo na defesa holandesa foi o goleiro Noppert, talvez a grande surpresa de Van Gaal, sempre corajoso. O experiente treinador permitiu ao goleiro do humilde Heerenveen (clube que nunca tinha cedido jogador para uma Copa) fazer sua estreia pela seleção justamente em um Mundial. Barrou Cillessen (por não ser bom de grupo), deixando assim o goleiro mais badalado do país de fora da Copa. Falou que o único arqueiro holandês em boa fase é o Noppert e o escalou sem medo. “Eu já escalei o Van der Sar com 19 anos”, disse Van Gaal, que também deixou Botman, Malen, Danjuma e Gravenberch de fora da delegação que foi a Qatar.      

Noppert fez pelo menos três boas defesas e parou perigosos ataques de Senegal no segundo tempo. Manteve a Holanda viva no jogo e saiu como o destaque do time, mais até do que os marcadores dos gols e que Frenkie de Jong, que participou bastante da partida (algumas vezes não tão bem, como no gol que perdeu na etapa inicial). Dumfries, que apoia o ataque muito mais do que Blind, foi bem marcado pela seleção de Senegal, o que complicou bem o sistema ofensivo laranja. Blind, bem experiente (estava na Copa de 2014 e fez gol no Brasil), é mais um lateral construtor hoje em dia. No comando do ataque, a Holanda foi com Janssen, que não esteve bem. Ele ocupou a vaga de Memphis Depay, que entrou aos 15 minutos do segundo tempo, como estava previsto. Essa mudança deixou o jogo mais aberto e mais criativo, os dois times passaram a ter mais chances claras de gol.    

Bergwijn é o parceiro natural de Memphis no ataque, mas ele não vive bom momento e não fez um bom jogo na estreia da Copa. Van Gaal tem noção desse momento ruim dele, mas o banca porque vê muita qualidade em seu futebol. Aliás Van Gaal diz que o time atual da Holanda é mais talentoso do que o de 2014, o que discordo. Klaassen, que é um meio-campista, entrou na vaga de Bergwijn e fez o gol que selou o placar do jogo. Antes disso, Gakpo abriu o placar ganhando de cabeça do goleirão Mendy após belo passe de Frenkie de Jong. O jovem craque do PSV é talvez a grande aposta da Holanda para esta Copa, ele participa de muitos gols e não foi diferente no seu debut em Mundial. Gakpo (pronuncia-se “Ráquipo”) não estava brilhando em campo, mas foi à frente e apareceu na área de surpresa para tirar o 0 do placar.

O resultado foi bom demais para um futebol apenas discreto da Holanda. Venceu o adversário mais duro da chave por dois gols de diferença, igualando assim o saldo do Equador. Os dois times lideram o grupo A com 3 pontos, mas a Laranja ainda vai ter o Qatar na última rodada para fazer saldo de gols, enquanto a equipe sul-americana vai ter que medir forças contra Senegal. 

As coisas caminham para uma classificação laranja em primeiro lugar e um duelo acessível nas oitavas contra o segundo colocado do grupo B. Mas para sonhar mais alto no torneio, a Holanda de Van Gaal vai ter que melhorar em todos os aspectos. Muitos torcedores holandeses não foram ao Qatar porque não confiam muito nesta geração. Talvez seja esta, inferior aos times dos anos 1970, 80, 90, 00 e 10, que vença uma Copa do Mundo. Haja torcida!

 

O técnico da Holanda, Louis van Gaal, no jogo contra Senegal na Copa do Mundo do Qatar
O técnico da Holanda, Louis van Gaal, no jogo contra Senegal na Copa do Mundo do Qatar Mike Hewitt/Getty Images

  

  

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Meus palpites para a Copa do Mundo estão à disposição para quem quiser competir comigo

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

Eu já pensava, claro, em dar meus palpites para a Copa do Mundo aqui no meu blog no site da ESPN, mas o Star+ me desafiou a desafiar você. Isso mesmo: meus palpites competem desde já com os fãs de esporte, assim como com muitos dos meus colegas do canal (não posso perder de jeito nenhum para o Ubiratan Leal, meu rival no ESPN FC e primeiro que me sacaneia quando a Holanda é eliminada).

Essa ação diferenciada do Star+ leva o nome de “Palpites Qatar”. Trata-se de um quiz que estará disponível para os assinantes fazerem o seu “palpitômetro” das partidas da Copa. O grande chamariz é a possibilidade de os fãs de esporte enfrentarem os chamados “talentos” da ESPN (narradores, comentaristas, apresentadores...), essa turma que acha que sabe tudo sobre o assunto. Os palpites poderão ser feitos até 5 minutos antes do início das partidas, mas eu já deixei todos os meus placares da fase de grupos prontos. Aliás, já tenho todo o chaveamento definido até o título da Inglaterra na final contra a Argentina.

Vou começar pelo começo, dando aqui meus palpites para os jogos dos 8 grupos, sem dar explicação para o resultado que escolhi. Tentei não ser clubista e acho que consegui, afinal não coloquei a Holanda como campeã nem como 100% na sua chave.


GRUPO A

QATAR 2 X 1 EQUADOR

SENEGAL 2 X 2 HOLANDA

QATAR 1 X 1 SENEGAL

HOLANDA 2 X 0 EQUADOR

EQUADOR 1 X 2 SENEGAL

HOLANDA 2 X 1 QATAR


GRUPO B

INGLATERRA 1 X 0 IRÃ

EUA 1 X 1 PAÍS DE GALES

PAÍS DE GALES 1 X 1 IRÃ

INGLATERRA 2 X 0 EUA

PAÍS DE GALES 1 X 3 INGLATERRA

IRÃ 2 X 1 EUA


GRUPO C

ARGENTINA 3 X 0 ARÁBIA SAUDITA

MÉXICO 1 X 1 POLÔNIA

POLÔNIA 2 X 1 ARÁBIA SAUDITA

ARGENTINA 2 X 1 MÉXICO

POLÔNIA 0 X 2 ARGENTINA

MÉXICO 2 X 1  ARÁBIA

 

GRUPO D

DINAMARCA 2 X 1 TUNÍSIA

FRANÇA 2 X 0 AUSTRÁLIA

TUNÍSIA 1 X 0 AUSTRÁLIA

FRANÇA 1 X 1 DINAMARCA

AUSTRÁLIA 0 X 2 DINAMARCA

TUNÍSIA 1 X 3 FRANÇA

 

GRUPO E

ALEMANHA 3 X 0 JAPÃO

ESPANHA 1 X 0 COSTA RICA

JAPÃO 0 X 0 COSTA RICA

ESPANHA 1 X 0 ALEMANHA

JAPÃO 1 X 2 ESPANHA

COSTA RICA 1 X 4 ALEMANHA

 

GRUPO F

MARROCOS 1 X 2 CROÁCIA

BÉLGICA 2 X 0 CANADÁ

BÉLGICA 2 X 1 MARROCOS

CROÁCIA 1 X 0 CANADÁ

CROÁCIA 1 X 2 BÉLGICA

CANADÁ 1 X 3 MARROCOS

 

GRUPO G

SUÍÇA 1 X 0 CAMARÕES

BRASIL 2 X 0 SÉRVIA

CAMARÕES 1 X 2 SÉRVIA

BRASIL 1 X 1 SUÍÇA

SÉRVIA 2 X 2 SUÍÇA

CAMARÕES 0 X 3 BRASIL


GRUPO H

URUGUAI 2 X 1 COREIA

PORTUGAL  2 X 0 GANA

COREIA 1 X 1 GANA

PORTUGAL 1 X 0 URUGUAI

GANA 1 X 1 URUGUAI

COREIA 1 X 2 PORTUGAL

 

Agora, os meus palpites para o mata-mata com base nos cruzamentos definidos pelos meus placares acima.

OITAVAS DE FINAL

HOLANDA 3 X 0 IRÃ

ARGENTINA 2  X 1 DINAMARCA

ESPANHA 1 X 0 CROÁCIA

BRASIL 2 X 0 URUGUAI

INGLATERRA 2 X 1 SENEGAL

FRANÇA 3 X 1 MÉXICO

BÉLGICA 1 X 2 ALEMANHA

PORTUGAL 0 X 1 SUÍÇA


QUARTAS DE FINAL

HOLANDA 1 X 1 ARGENTINA*

ESPANHA 1 X 2 BRASIL

INGLATERRA 1 X 0 FRANÇA

ALEMANHA 2 X 1 SUÍÇA

*Vence nos pênaltis

 

SEMIFINAIS

BRASIL 1 X 1 ARGENTINA*

INGLATERRA 2 X 1 ALEMANHA

*Vence nos pênaltis

 

DISPUTA DE TERCEIRO LUGAR

BRASIL 2 X 0 ALEMANHA

 

FINAL

ARGENTINA 1 X 2  INGLATERRA

A Inglaterra do artilheiro Kane conquistará seu bicampeonato em cima da Argentina, uma vingança por 1986 com a ajuda do VAR
A Inglaterra do artilheiro Kane conquistará seu bicampeonato em cima da Argentina, uma vingança por 1986 com a ajuda do VAR Twitter Oficial Eurocopa 2020

 

 

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Com 26 jogadores, Tite renova o ataque, usa Premier League como base e teima com Daniel Alves

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

A seleção brasileira, uma das mais fortes do mundo por ter tantas opções de nomes, pôde renovar bem seu ataque para a Copa do Mundo no Qatar, mas um veterano em especial, Daniel Alves, mostra a teimosia de Tite e a carência técnica das laterais da equipe. Dos nove atacantes chamados por Tite nesta segunda-feira (7), sete são estreantes em Mundial (apenas Neymar e Gabriel Jesus são remanescentes do Mundial de 2018). 

Se há esse ar de juventude e frescor no ataque, tanto nas beiradas quanto na posição de centroavante (Pedro merecia, sim, estar no grupo mesmo tendo chegado agora há pouco ao time e pode brigar por titularidade), a figura de Daniel Alves parece uma forçada de barra neste momento em que ele está com 39 anos e se arrasta no Pumas, do México, sendo criticado (vai se tornar o jogador mais velho a defender o Brasil em uma Copa, superando os 37 anos de Djalma Santos no Mundial de 1966, quando não se pesou tanto a idade e o Brasil caiu cedo). Pela primeira vez na história, um jogador que atua no México defende o Brasil em uma Copa. Isso diz muito sobre a convocação de Daniel Alves e sobre a lateral brasileira.

Ter a Premier League como base da seleção é uma ótima pedida para os dias atuais. A principal liga nacional do planeta conta com 12 convocados, dentre eles Gabriel Martinelli, atacante do Arsenal que ganhou sua vaga no grupo na reta final deste ciclo de Copa d Mundo. A segunda liga com mais convocados é a da Espanha, com cinco chamados, três deles do vigente campeão europeu (Real Madrid). O futebol brasileiro está muito bem representado pelo exterior e por Flamengo (Éverton Ribeiro e Pedro) e Palmeiras (Weverton), pois são os dois clubes dominantes no país e no nosso continente nos últimos anos. Talvez mais gente desses dois times poderiam estar na lista final, casos de Danilo e Gabigol (não aproveitaram bem as oportunidades que tiveram na seleção) e de Dudu, que nunca foi muito querido e lembrado por Tite.

Não há dúvidas entre os goleiros. Há tempos sabemos os três escolhidos e que Alisson será o titular pela segunda Copa seguida. Na zaga, Bremer tomou o posto de Gabriel Magalhães na reta final, lembrando que Lucas Veríssimo, que agrada tanto a Tite, viu suas chances se complicarem por conta de grave lesão. Marquinhos e Thiago Silva possuem muita técnica e também entrosamento, essa dupla é um dos pontos altos (não tanto em estatura) da equipe, lembrando que o veterano zagueiro, tão cobrado por chorar em 2014, deverá ser o capitão do time.

O calcanhar de Aquiles do grupo está mesmo nas laterais. Danilo e Alex Sandro não estão no nível dos grandes alas que o Brasil já levou a Copas do Mundo. Neste momento mesmo, eles disputam Europa Legaue com a Juventus, que está bem longe de brigar pelo scudetto na Itália. Emerson Royal, que também não é um craque, teve uma falha servindo a seleção e ficou de fora. Tite deve cogitar, em uma eventualidade, talvez usar Militão ou Fabinho como lateral. Daniel Alves estaria na lista mais pela experiência e por ser bom de grupo. O veterano pode até construir jogadas por dentro e atuar como volante, porém, é fato que Tite demorou a testar ou desenvolver outros nomes na posição. Alex Telles, no Sevilla, não está muito atrás do xará Alex Sandro. Se Renan Lodi não aconteceu como se esperava na Europa e Guilherme Arana sofreu uma lesão grave, o Brasil vai com esses laterais mesmo.

Casemiro será o cabeça-de-área da equipe, tendo Fabinho como reserva imediato. Fred pena com o Manchester United, mas Tite tem o volante como um de seus 'queridinhos'. Bruno Guimarães, voando no Newcastle, merece ser usado mais vezes, talvez ganhar até vaga no time titular. Paquetá vinha em bom momento e lucrou muito com a boa parceria com Neymar, dentro e fora de campo. Não sei se a lesão recente dele e o crescimento de outros atletas mudou o seu status na equipe, até porque as preferências de Neymar ainda têm peso no grupo. 

Esse privilégio é um erro de Tite desde o Mundial da Rússia. A 'Neymardependência' acabou, mas a influência dele ainda é enorme no grupo. Ele pode jogar em mais de uma função do meio para a frente, mas talvez tenha que ceder protagonismo a outras figuras, como Vinícius Júnior.

Gabriel Martinelli, uma das caras novas do ataque de uma seleção brasileira que vai à Copa tendo a Premier League como base
Gabriel Martinelli, uma das caras novas do ataque de uma seleção brasileira que vai à Copa tendo a Premier League como base Instagram: @ituanofc

O camisa 9 desta vez será Richarlison, um menino de ouro que se posiciona em boas causas e que chora quando corre o risco de ficar fora da seleção. Merece vestir o uniforme que gera tanta cobrança por gols, algo que Gabriel Jesus não honrou na Copa passada. Pedro é uma boa sombra para a 'centroavância', mas a fase boa do Arsenal deve animar as esperanças de Jesus, agora mais protagonista. O ataque é de fato uma confiança nacional, pois os “meninos pelas beiradas” são capazes de fazer a diferença, foram eles que transformaram uma seleção quadrada demais em algo mais objetivo, vertical e vistoso. Após a Copa América perdida em casa para a Argentina, a seleção foi oxigenada pelos garotos, pelos seus dribles. O equilibrado Tite (às vezes em excesso) abriu mão de um quinto zagueiro para contar com mais um atacante. Esse é um bom sinal de que o Brasil pretende atacar mais, fazer o tipo de jogo que encanta mais o povo brasileiro.

Neste momento em que o Brasil respira novos ares após muita gente se recusar a vestir a camisa da seleção brasileira, o grupo que vai tentar o hexa no Qatar é forte o suficiente para ser campeão. Há talento, há renovação, há futebol intenso, há tempo de trabalho para o treinador, há resultados, há boa fase de Neymar e de muitos outros jovens atacantes. O caminho não será dos mais fáceis no Mundial, mas o Brasil pode fazer um futebol-moleque, vencendo a Copa e resgatando a auto-estima do futebol brasileiro.

 

 

 

 

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Tri da Libertadores do Flamengo parece com o tri do São Paulo e embola a luta pelo 1º tetra do país

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

O clube dos tricampeões brasileiros da Conmebol Libertadores aumentou com o título do Flamengo sobre o Athletico e agora já é bem maior do que o clube dos bicampeões e o dos campeões. O fato de o tricampeonato do rubro-negro carioca ter sido em cima do rubro-negro paranaense é apenas uma das coincidências com o tricampeonato continental do São Paulo. O Mengão ganhou títulos contra um argentino, um chileno e o Furacão, exatamente como o Tricolor do Morumbi, que espera pelo seu tetra desde que ganhou a América em 2005. O Athletico não pôde usar a Arena da Baixada como arma na final nem contra o São Paulo (não tinha a capacidade mínima de 40 mil lugares na época) nem contra o Flamengo (por conta da final em jogo único, algo que poderia ser repensado, como destaquei em post anterior). Detalhe: tanto o São Paulo quanto o Flamengo demoraram muito para vencer um jogo na Arena da Baixada, ambos têm retrospecto ruim nesse estádio.   

Os times argentinos batidos nas finais por Flamengo e São Paulo praticavam jogo bonito por conta de seus badalados treinadores: os xarás Marcelo Gallardo (River Plate de 2019) e Marcelo Bielsa (Newell’s de 1992). Os clubes chilenos superados por Fla e SP são equipes sem título internacional oficial de primeira grandeza até os dias de hoje (Cobreloa de 1981 e Universidad Católica de 1993). Zico e Rogério Ceni, os maiores ídolos da história de Flamengo e São Paulo, foram os capitães e melhores jogadores de uma das conquistas de Libertadores de seus amados clubes (o Galinho de Quintino em 1981 e o maior goleiro artilheiro da história em 2005). Os outros capitães campeões dos dois gigantes são armadores, meias-atacantes com passagem pela seleção (Éverton Ribeiro em 2019 e 2022, e Raí em 1992 e 1993).

Gabigol, autor dos gols do bi e do tri da Libertadores do Flamengo, pode se tornar em 2023 o terceiro maior goleador da história da disputa
Gabigol, autor dos gols do bi e do tri da Libertadores do Flamengo, pode se tornar em 2023 o terceiro maior goleador da história da disputa Flickr Flamengo

Em Mundiais, a história de Flamengo e São Paulo é bastante  diferente, mas ambos tiveram que enfrentar o Liverpool campeão europeu na decisão. O time carioca ganhou uma final e perdeu a outra. O São Paulo superou os Reds na partida que lhe deu o tricampeonato mundial. Na próxima edição do Mundial, que deve acontecer em fevereiro (China, Emirados Árabes e Estados Unidos podem ser a sede), o Mengão espera encontrar com um gigante espanhol: o Real Madrid. O São Paulo já enfrentou e venceu um gigante espanhol em Mundial: o Barcelona em 1992. Telê Santana é apontado como o maior técnico da história do São Paulo, não há dúvida sobre isso, mas Jorge Jesus para muitos é o maior treinador de todos os tempos no Flamengo, pelos títulos de 2019 e pelo futebol vistoso de sua equipe, uma marca de Telê.

O Flamengo completará em 2023 sete participações seguidas na Libertadores, igualando a sequência recorde do São Paulo, que ainda não sabe se estará na nobre competição continental no ano que vem. O Palmeiras vai para a sua oitava participação consecutiva na Libertadores em 2023, o novo recorde nacional. A briga para ver quem será o primeiro tetracampeão brasileiro da Libertadores pode ter no ano que vem apenas Flamengo e Palmeiras, pois o Grêmio está fora, o Santos possui remotas chances, e o São Paulo está ainda correndo grande perigo de não ir para a Libertadores pelo segundo ano seguido mesmo com uma das maiores folhas salariais do país e com tanta vaga em disputa.

Com a força econômica dos clubes brasileiros fazendo a diferença nos últimos anos, o país se aproximou bem da Argentina em número de títulos da Libertadores. Agora, está 25 a 22 para os “hermanos”, que só assistem a finais 100% brasileiras nos últimos três anos. Os times do Brasil estão estabelecendo recordes históricos de invencibilidades na competição. Se a situação não mudar nos próximos anos, os times brasileiros vão superar os maiores campeões do continente: Independiente (sete títulos), Boca Juniors (seis taças), Peñarol (cinco conquistas) e Estudiantes e River Plate (quatro troféus para cada um). Gabigol empatou cm 29 gols com Luizão, virando o maior artilheiro brasileiro do torneio e, caso fique mais alguns anos no Flamengo (ou mesmo vá para outro clube brasileiro), pode sonhar em alcançar Spencer, lendário atacante equatoriano que marcou época no Peñarol. Ele lidera a tabela geral de artilheiros da Libertadores com 54 gols. Com 8 gols na Libertadores de 2023, Gabigol já empataria com o uruguaio Pedro Rocha, ídolo do São Paulo, na terceira posição.

Flamengo, Palmeiras, Internacional, Fluminense e Corinthians já são “o Brasil na Libertadores” de 2023. Outros times tradicionais do país vão se juntar a essa turma. Os vizinhos que se cuidem!

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Tri da Libertadores do Flamengo parece com o tri do São Paulo e embola a luta pelo 1º tetra do país

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Diante do sofrimento de tantos torcedores, não dá mais para final única na América do Sul

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

A vida é feita de experiências. Algumas são boas e outra não dão certo. A Conmebol, que há alguns anos tenta ao máximo repetir o que a Uefa faz na Europa, deu uma cartada ao lançar a final única na Conmebol Libertadores e na Copa Sudamericana. E antes da decisão entre Athletico-PR e Flamengo em Guayaquil, está bastante nítido que algo de errado não está certo, como dizem atualmente.

A dificuldade e o sofrimento dos torcedores para chegar ao local do jogo são uma razão mais do que suficiente para acabar com essa partida única que tenta ser uma espécie de Super Bowl do nosso futebol.  O problema não é de Guayaquil ou do Equador. Vimos sofrimento igual ou maior dos torcedores são-paulinos para ir a Córdoba ver a decisão da Copa Sudamericana contra o Independiente del Valle (posso dizer isso com propriedade porque fui para o interior da Argentina ver o confronto). Um humilde e emergente clube equatoriano, com pequena torcida, não pôde jogar em seu país na final. E agora o Equador, sem time na final da Libertadores, se esforça sem muito sucesso para receber milhares de torcedores brasileiros. E olha que o estádio deve receber cerca de só 15 mil torcedores de fora, a Conmebol está tentando fazer uma distribuição de ingressos para o polo local para não deixar feia a imagem de arquibancada deveras vazia.         

Torcedores, especialmente os com menor poder aquisitivo, festejam mais nas ruas as viagens dos times do que nos estádios com final única
Torcedores, especialmente os com menor poder aquisitivo, festejam mais nas ruas as viagens dos times do que nos estádios com final única Alexandre Vidal / Flamengo

 

Na final da Sudamericana, esperava-se uma invasão são-paulina, algo que não aconteceu pelos problemas de logística, pelas limitações de voo e hotéis. Os poucos voos ficaram muito mais caros, nessas horas tem gente que tenta se aproveitar da situação e do fanatismo dos torcedores. Você espera a temporada inteira sonhando com seu time em uma decisão continental e, quando chega esse momento, você é obrigado a passar por uma verdadeira provação para conseguir chegar ao local da partida. Muitos desistem no caminho ou acabam sendo enganados, como vários torcedores do Flamengo que não embarcaram para Guayaquil mesmo lidando com uma agência parceira do clube. O Flamengo tem a maior torcida do Brasil e, muito possivelmente, da América do Sul. Se os flamenguistas (muitos com grana para ir em massa para Lima, Montevidéu ou para Guayaquil, coisa que poucos de nossos vizinhos têm condição de realizar) estão com dificuldade para viajar e encher um estádio, imagine então as outras torcidas. O Athletico mesmo, exemplo de clube que se modernizou e projetou estar na mais nobre decisão da América, chega pela segunda vez em sua história à final da Libertadores e de novo não poderá usar sua bela Arena da Baixada como arma para ser campeão (em 2005, o regulamento exigia capacidade para 40 mil pessoas na decisão e o estádio atleticano ainda não tinha sido concluído, fechado).  Furacão tem uma torcida muito apaixonada, mas bastante localizada no Paraná, Estado que ainda não pôde receber uma partida final de Libertadores. Uma pena.  

Quando a Conmebol, com esta administração atual, defendeu com pompa a final única como símbolo de modernidade, organização e dinheiro, ignorou logo de cara a tradição do nosso continente. Muito da magia da Libertadores e de outros torneios aqui da América do Sul estão na paixão dos torcedores, na festa das arquibancadas, no famoso “recibimiento” na chegada do time ao estádio e na entrada dele em campo. Isso fez muito da fama do futebol sul-americano. Aqui respiramos o futebol de forma bem diferente de muitos dos países europeus. Não somos a Europa, um continente muito mais velho, com distâncias bem menores, com mais estrutura, mais planejamento, mais grana etc. Não é questão de dizer que somos Terceiro Mundo e, por isso, não temos a capacidade de organizar um grande evento único. A questão é que não precisamos mesmo da final única e de copiar tudo o que a Europa faz. Somos felizes e amamos futebol do nosso jeito, com nossas adversidades, com nossas limitações, com nossa cultura.   

Torcedores do Flamengo tiveram problemas para irem à final da Libertadores          


Dizem que errar é humano e que persistir no erro é burrice. A Conmebol tem o dever de repensar a final única diante de tudo que aconteceu desde aquela final entre Palmeiras e Santos, dois times paulistas, no Maracanã nada lotado. Já tivemos mudanças de sede em cima da hora por quase todo tipo de motivo, de conflito social a eleições presidenciais aqui no Brasil. As escolhas das sedes, teoricamente, deveriam apontar para as maiores capitais para evitar o caos logístico, mas isso seria elitizar ainda mais um esporte tão popular que já está tão elitizado atualmente. Os torcedores sul-americanos merecem festejar em casa o sucesso de seus times, não deveriam ser obrigados a vencer um desafio quase tão grande quanto o de seu clube para chegar à final.

 

 

 

 

 

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Por que Flamengo e Palmeiras estão polarizando o futebol brasileiro, e não mais 'espanholizando'

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno
Os técnicos Dorival Junior, do Flamengo, e Abel Ferreira, do Flamengo
Os técnicos Dorival Junior, do Flamengo, e Abel Ferreira, do Flamengo Paula Reis/Flamengo | Hedgard Moraes/UAI

Flamengo e Palmeiras são os clubes que mais possuem títulos nacionais. E já estão abrindo uma grande vantagem sobre a concorrência, cada vez menor e mais endividada. O rubro-negro ganhou a final da Copa do Brasil, passou a ser tetra do torneio assim como o Verdão, e computa 15 taças nacionais, incluindo o Módulo Verde da Copa União de 1987, duas Supercopas e uma Copa dos Campeões, torneio extinto que dava uma vaga na Libertadores. O Palmeiras deve confirmar neste ano seu 16º título nacional, sendo 11 Brasileiros (com a unificação), 4 Copas do Brasil e também uma Copa dos Campeões. Os dois gigantes vão se encontrar quase que certamente na Supercopa do ano que vem, assim o Flamengo poderá empatar com o Verdão com 16 troféus.

Esse domínio escancarado dos dois clubes foi consolidado nos últimos anos após mudanças significativas na administração de ambos. O Flamengo faturou cinco troféus nacionais desde 2019, e o Palmeiras está indo para a sua quarta taça nacional desde 2016. Das últimas sete edições do Brasileiro (contando a atual), só duas vezes o título escapou da poderosa dupla: o Corinthians de Fabio Carille surpreendeu em 2017, e o Galo de Cuca saiu da fila de 50 anos no Nacional. O Palmeiras deve ser campeão brasileiro neste ano com algumas rodadas de antecedência, mas não vai igualar os 90 pontos do Flamengo de Jorge Jesus em 2019 (16 pontos de vantagem sobre o Santos e o próprio Palmeiras). 

O Verdão foi vice do Brasileiro em 2017, e o Mengão ficou em segundo lugar nos Brasileiros de 2018 e 2021, além da Copa do Brasil de 2017. Não dá para ignorar a hegemonia que está sendo imposta por esses dois clubes no futebol brasileiro, que temeu por muito tempo sofrer uma “espanholização”. Muita gente entendia que Corinthians e Flamengo, por razões financeiras, seriam o “Real Madrid e o Barcelona” do Brasil, condenando todos os outros clubes do país a uma posição secundária. Só que quem tomou essa posição de destaque a lado do rubro-negro foi o Palmeiras.

O Flamengo fatura R$ 160 milhões de PPV (pay-per-view), R$ 50 milhões a mais do que o Corinthians. Os dois clubes mais populares do Brasil possuem contratos muito superiores aos da concorrência, contando com um valor mínimo alto garantido e bônus de vendas. O São Paulo, dono da terceira maior torcida do país, é o terceiro que mais lucra com PPV, mas o valor é só R$ 36 milhões, R$ 124 milhões a menos do que o Flamengo (um valor maior do que o Tricolor vai faturar com as vendas de Antony e Casemiro nesta temporada, algo em torno de R$ 115 milhões). 

O Palmeiras ganha um pouco menos do que o São Paulo: R$ 32 milhões. Não fosse seu patrocinador forte pagando valor acima do que o mercado sugere, o Verdão teria dificuldades para manter o alto nível de investimento dos últimos anos e competir para valer.  O Galo também lucra por ter poderosos parceiros, uma vez que ele recebe “apenas” R$ 20 milhões de PPV. Só que sabemos que a dívida do Atlético-MG é a maior dentre os clubes brasileiros. As boas campanhas recentes do Galo e sua arena (estará pronta em 2023) não são suficientes para garantir um faturamento anual de quase R$ 1 bilhão, algo que o Flamengo tem como algo possível.

Flamengo comemora o seu quarto título da Copa do Brasil, sua quinta taça nacional desde 2019 e seu 15º troféu do tipo na história
Flamengo comemora o seu quarto título da Copa do Brasil, sua quinta taça nacional desde 2019 e seu 15º troféu do tipo na história Gilvan de Souza/Flamengo

 

Outros grandes clubes do país, mesmo com boas administrações, não conseguem nem meio bilhão de faturamento. É o caso de Athletico, Grêmio e Internacional, no Sul, e também de camisas tradicionais do Sudeste, como Cruzeiro, Santos, São Paulo e Vasco. Apenas o Corinthians parece hoje em condições reais de se aproximar financeiramente de Flamengo e Palmeiras. Por essas e outras que houve um racha na formação da liga independente da CBF, com vários clubes reclamando do privilégio dado na divisão dos valores para as equipes de maior torcida. 

Tal problema vem praticamente desde 1987, ano em que nasceu a Copa União e o Clube dos 13, entidade que se abriu para outros clubes mais tarde mas que já foi extinta por vontade política e comercial de alguns.

Não sei se a transformação de alguns clubes do país em SAF vai mudar o cenário atual do futebol brasileiro. Creio que, a curto e médio prazo, tanto o Flamengo quanto o Palmeiras continuarão disputando os principais títulos do país e da América do Sul. Se o rubro-negro vencer a Libertadores neste ano (é bem favorito contra o Athletico, na minha opinião), serão quatro anos com a dupla Mengão/Verdão dominando o continente. O Palmeiras já bateu o recorde de participações seguidas na Libertadores entre os brasileiros, com oito edições consecutivas. 

Se antes era muito difícil para todos os clubes chegar à Libertadores (precisava ser campeão ou vice brasileiro ou ganhar a Copa do Brasil), hoje com tantas vagas é quase impossível uma edição do torneio sem o alviverde paulista. A mesma coisa serve para o Flamengo, que vai para a sua sétima Libertadores de forma seguida. Os nossos vizinhos passaram a respeitar e temer essa dupla endinheirada. São hoje quase “clubes europeus” disputando na América do Sul.

Abel Ferreira, técnico do Palmeiras que já ganhou duas Libertadores, uma Copa do Brasil e vai conquistar o Brasileiro
Abel Ferreira, técnico do Palmeiras que já ganhou duas Libertadores, uma Copa do Brasil e vai conquistar o Brasileiro GazetaPress

O Corinthians, com seus 11 títulos nacionais, é o terceiro com mais troféus do tipo. Vice da Copa do Brasil, não conquista um título nacional desde 2017. Na década passada, enquanto o Flamengo e o Palmeiras sofriam na parte administrativa, o Timão ganhou Mundial, Libertadores e três Brasileiros. Agora, está complicado acompanhar os principais adversários. O São Paulo, hexacampeão brasileiro, não ganha um título nacional desde 2008 e vem lutando em alguns anos para não cair. O Santos ainda não foi rebaixado também, porém não vence um título nacional desde 2010. 

O Cruzeiro e o Grêmio, os maiores vencedores da Copa do Brasil, experimentaram neste ano então a Série B, assim como o Vasco, quinta maior torcida do país. O Inter tem beliscado alguns vices do Brasileiro, campeonato que não vence desde 1979, mas também passou recentemente pela Série B e não vence nenhum troféu nacional desde 1992. O Nordeste venceu uma taça do tipo pela última vez em 2008, com o Sport, época em que os times que jogavam a Libertadores não podiam disputar a Copa do Brasil.  

O Athletico tem sido uma exceção no futebol brasileiro, conseguindo um título nacional recente (além de duas Copas Sudamericanas) mesmo sem ter um investimento tão alto como o de Flamengo e Palmeiras. Só que seu presidente, Mario Celso Petraglia, é quem mais combate publicamente e nos bastidores a vantagem financeira cavalar que o Flamengo, sobretudo, tem no futebol brasileiro. O Flamengo quase ganhou tudo em 2019 (coisa que o Galo esteve perto em 2021), e o Palmeiras na era Abel Ferreira faturou praticamente todos os títulos possíveis (faltou o Mundial). 

A Tríplice Coroa que parecia impossível até outro dia está na mira desses poucos clubes endinheirados do nosso país. Esse cenário desigual pode mudar em alguns anos se certos times mudarem administrativamente, mas o retrato do momento é da tal “espanholização” que tanto falavam. É importante aqui lembrar, no entanto, que o Atlético de Madri foi campeão espanhol na temporada retrasada e que o Betis, a Real Sociedad e o Valencia ganharam a Copa do Rei nos últimos quatro anos (e que o gigante Real Madrid não conquista a sua copa nacional desde 2014).

Talvez o termo “espanholização” esteja mesmo errado. Melhor falar em polarização, algo que está muito na moda no país..

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Temporada diferenciada deve ter a maior Europa League da história com vários 'tubarões' do continente

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno
EUROPA LEAGUE | UEL | LIGA EUROPA | 2022-2023
EUROPA LEAGUE | UEL | LIGA EUROPA | 2022-2023 ESPN

Na temporada europeia passada, vimos a estreia da Uefa Europa Conference League e, na reta final, essa competição pareceu ser tão forte e atrativa quanto a Europa League

Pelo jeito e pelos resultados até aqui, a edição desta temporada da Europa League será tão forte e atrativa quanto a Champions League. Devemos ter na disputa pelo título simplesmente os 'tubarões' Ajax, Atlético de Madri, Barcelona, Juventus, Milan, Sevilla, Shakhtar Donetsk e Sporting. Essa turma não vem bem na atual Champions e corre sério risco de ser “rebaixada” para a Europa League, torneio que já conta com Arsenal, Betis, Fenerbahce, Feyenoord, Lazio, PSV, Manchester United, Real Sociedad e a Roma de José Mourinho, que deu outra polêmica entrevista chamando os times que virão da Champions para a Europa League de “tubarões fracassados”.

De fato é um fracasso para o Milan (sete vezes campeão da Europa), para o Barcelona (cinco vezes dono do Velho Continente) e para a Juventus (duas vezes senhora da Copa dos Campeões/Champions) “cair” para a Europa League. O atual detentor do scudetto ainda tem razoável chance de avançar às oitavas da Champions, mas o retrato do momento mostra o Milan em terceiro lugar no Grupo E atrás do Red Bull Salzburg  após levar duas pauladas do Chelsea

A situação do Barça é bem mais desesperadora no Grupo C após levar desvantagem no confronto direto com a Inter (o Bayern já se garantiu nas oitavas). A Juventus então, após a derrota para o Maccabi Haifa, ficou bem atrás de Paris Saint-Germain e Benfica e pode terminar a fase de grupos em quarto lugar, o que não lhe daria nem Europa League.

Meu querido Ajax (quatro vezes o maioral da Europa) sucumbiu duas vezes diante do embalado Napoli e vai ser outro “tubarão” na Europa League, quase que seguramente. Lembro que os terceiros dos grupos da Champions fazem um playoff logo de cara com os segundos colocados dos grupos da Europa League. Então podemos ter um Barcelona x Manchester United, um Milan x PSV, um Ajax x Roma ou um Juventus x Feyenoord ainda antes das oitavas de final. 

São confrontos com cara de Champions. 

Por isso talvez Mourinho tenha reclamado do regulamento do torneio, que permite uma espécie de segunda chance continental na temporada para clubes que não foram bem nas competições originais. Só que Mourinho já disse que, se sua Roma não pegar uma vaga na próxima fase da Europa League, vai feliz da vida também em busca do bicampeonato da Conference League (os terceiros dos grupos da Europa League também desfrutam da possibilidade de sucesso na disputa continental que vem abaixo).  

Lewandowski deve jogar nesta temporada a Liga Europa, que namora com o Barcelona pelo segundo ano consecutivo
Lewandowski deve jogar nesta temporada a Liga Europa, que namora com o Barcelona pelo segundo ano consecutivo EFE/Román Ríos

 

Na temporada passada, quando o Barcelona ficou atrás do Benfica na Champions e “caiu” para a Liga Europa, foi logo apontado por muitos como o grande favorito ao título. Só que o time de Xavi foi engolido, dentro e fora de campo, pelo Eintracht Frankfurt, que viria a ser o campeão da Europa League. Desta vez, mesmo mais fortalecido, contando até com Lewandowski, o Barça chegaria mais bem acompanhado por clubes históricos e renomados para o segundo torneio continental da Uefa. 

Pelos vários clubes de peso que devem jogar a Europa League, fica difícil imaginar uma surpresa como o Rangers, que foi à final passada e só perdeu a decisão na disputa de pênaltis. Aliás quem conhece muito de final de Europa League é o Sevilla, o Mister Europa League que está praticamente condenado na Champions a ser terceiro colocado e ser “forçado” assim a lutar pelo que seria o seu sétimo título da Liga Europa.  

Alguém pode dizer que eu estou aqui supervalorizando a Liga Europa porque sou comentarista da ESPN, canal que transmite o torneio. Não vou ser louco de dizer nunca que a Liga Europa está maior do que a Champions League, apenas estou constatando uma mudança, mesmo que sazonal, do perfil do torneio. Alguma coisa parecida tem acontecido na América do Sul, com vários clubes de muita camisa disputando com bastante vontade a Copa Sul-Americana, casos neste ano de 2022 de São Paulo, Santos, Internacional, Fluminense, Independiente, Racing, Nacional, Olimpia, Colo Colo e LDU. Isso reflete em grande parte a fase não tão boa desses clubes históricos, que acabam ficando alijados do principal torneio internacional de seu continente, seja porque não fizeram um bom campeonato nacional seja porque foram mal na fase de grupos da mais nobre competição de sua região.

Ainda teremos duas rodadas da fase de grupos da Champions League e da Liga Europa pela frente. Embora muita coisa já esteja definida (Bayern, Brugge, Manchester City, Napoli e Real Madrid já estão classificados para as oitavas da Champions), uma ou outra surpresa ainda pode pintar, mas a tendência é que tenhamos mesmo o mais concorrido sorteio da história da Liga Europa em breve. Eu arrisco dizer que teremos ao menos um confronto do segundo torneio da Uefa atraindo mais atenção do do que alguns das oitavas da Champions. Afinal um Brugge x Napoli nunca vai ser mais notícia do que um Barcelona x Manchester United. A Europa League não é a “Liga das Estrelas”, mas ao menos nesta temporada é a Liga de Cristiano Ronaldo e de Lewa. Alto nível!   

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História de superação de Endrick e sua família encanta até mais que seu talento e me faz lembrar de Henry

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

Talvez a grande notícia desta última semana no futebol brasileiro tenha sido a tão esperada estreia do atacante Endrick no time principal do Palmeiras, mas isso ficou pequeno para mim diante da linda história de luta de sua família, muito bem retratada no choro de seu pai na arquibancada. Torcedores de vários times, imprensa, empresários, clubes europeus, e amantes do futebol de todo tipo aguardavam curiosos pelo debut do garoto de 16 anos que dá show no sub-20. Muito se discutiu se o inteligente Abel Ferreira estava fazendo o certo ou se estava sendo injusto ao mostrar cautela desde o Mundial de Clubes com aquela que talvez seja mesmo a maior promessa já revelada pelo Verdão na história.   

Endrick já tinha ficado no banco em partidas anteriores deste Campeonato Brasileiro que já está encaminhado para o Palmeiras há mais de um mês, antes mesmo de eu sair de férias (volto só agora a escrever no blog por isso). Havia um clamor generalizado pela utilização do mais novo fenômeno do futebol nacional e a chance veio contra o Coritiba, no segundo tempo, quando a vitória do time da casa já estava consolidada. As imagens de Endrick entrando em campo, desperdiçando duas oportunidades (em uma delas não passando a bola para companheiros que estavam em melhor condição) tomaram conta dos programas esportivos. Talvez rodem o mundo quando ele completar 18 anos e for negociado com algum gigante do futebol europeu. Quem esteve no Allianz Parque nesse jogo jamais vai esquecer a euforia quando ele foi chamado para entrar na partida. Diria que é bem grande chance de no futuro milhares de palmeirenses dizerem com orgulho que estavam no estádio na goleada contra o Coritiba. Isso porque a história de Endrick é infinitamente maior do que essa partida que ampliou ainda mais a liderança alviverde no Brasileiro. Ninguém sabe aonde pode chegar no futebol esse talentoso jogador, mas todos já sabem do seu passado de fome.

Douglas, o pai de Endrick, estava emocionado demais com a estreia de seu filho no time principal do Palmeiras. Isso é normal para qualquer pai que vê a realização de sua cria. Mas imagina o filme todo que passou ali na cabeça de Douglas e de outros integrantes de sua família. O pai de Endrick jogou bola  e ganhou algum troco dessa forma para conseguir comprar cestas básicas, para pagar uma conta de água, para comprar um gás e para dar um sustento à sua família, como ele já declarou em entrevistas. O pai de Endrick é um guerreiro, como outros milhões neste país que tentam sair da linha da pobreza, que lutam para dar comida a seus filhos. Ele não teve o raro talento do filho para jogar bola e por isso não foi muito longe em sua carreira profissional. Mas ele ama futebol e foi dessa forma que que ele viu uma possibilidade de tirar sua família da miséria. Quantos não usam o futebol no Brasil para ascender socialmente, para conseguir independência financeira?

Em um certo dia, Endrick disse que estava com fome e pediu comida ao pai, mas infelizmente não tinha nada na geladeira nem no armário. O garoto falou então que iria ser jogador do futebol para mudar a situação da família. Basicamente, Endrick pensou exatamente como seu pai, só que sua qualidade absurda para jogar futebol o colocou ainda muito cedo em uma condição de estrela, coisa que Douglas passou longe de ser. 

Quantos Endricks temos no Brasil? Pensando em craques, eles são cada vez mais raros. Quantos Douglas nós revelamos neste país? Vários, infelizmente. São mais de 30 milhões de pessoas que vivem na pobreza no Brasil atualmente. E, infelizmente, não tem time de futebol para todo esse povo no mundo. Aliás poucos são os times de futebol no país que têm boa condição financeira. O pai de Endrick teve muitas dificuldades para ficar em São Paulo e contou com a ajuda de Jailson, ex-goleiro palmeirense, para segurar o filho no Verdão, um caso raro hoje de clube nacional endinheirado.

O talentoso atacante Endrick, hoje com 16 anos, tirou sua família da miséria antes de estrear no profissional do Palmeiras
O talentoso atacante Endrick, hoje com 16 anos, tirou sua família da miséria antes de estrear no profissional do Palmeiras Fabio Menotti / Palmeiras

Endrick já está dando ao seu irmão mais novo tudo o que ele não teve. Agora, ninguém passará mais fome e aperto na família. Por isso o choro também de Douglas enquanto filmava com seu celular a entrada em campo de Endrick contra o Coritiba. Não era apenas um pai ali festejando seu filho virando jogador de futebol. Aliás é nessas horas que a gente vê que “não é só futebol”. Desde já há uma torcida enorme para o sucesso de Endrick e de sua família. O garoto perdeu ainda recentemente o avô e lamentou emocionado que não conseguiu dar a ele a alegria de vê-lo jogar no time principal. Infelizmente, a vida é curta e é sofrida demais para tanta gente. Só quem passou fome sabe o que é isso.

Carrasco do Brasil na Copa de 2006, o elegante atacante francês Henry disse naquela época que “os jogadores não estudam” ao explicar por que apareciam tantos craques brasileiros. “No Brasil, nascem com uma bola nos pés. Na praia, na rua, na escola, onde se olha estão jogando futebol. Quando eu era criança, pedia à minha mãe se eu podia brincar, e ela muitas vezes negava. Eu estudava das 7h às 17h. No Brasil, as crianças jogam das 8h às 18h. Basta ver aquelas cinco estrelas na camisa deles para perceber que o futebol faz parte de sua identidade. Gostam de tal forma do jogo que só querem levar a bola para o ataque. Sempre foi assim e vai continuar sendo sempre”, afirmou Henry, que despertou algumas críticas com essa análise do futebol brasileiro.     

Impossível não pensar em Endrick ao resgatar as frases do Henry. Não sei exatamente como foi a vida escolar do jovem craque do Palmeiras, mas sei que ele precisava arrumar dinheiro e comida para sua família, mesmo sendo ainda uma criança. O futebol não é só parte da identidade do Brasil, ele é uma rara salvação para alguns saírem das classes mais baixas da sociedade. Em alguns casos, é quase a única esperança de sobrevivência. A humildade de Endrick e de sua família encantam quase tanto quanto o seu futebol, bastante ofensivo como também cantou a bola o Henry. Não vai dar para Endrick na Copa do Mundo deste ano no Qatar (há uma discussão agora se ele deve ou não servir a seleção sub-17, que parece pouca coisa para ele e todo o seu talento), mas muito possivelmente em 2026, no Mundial na América do Norte, ele deverá estar no radar da seleção principal. Muitas reportagens mundo afora vão lembrar desta estreia de Endrick contra o Coritiba e do sofrimento  da superação de sua família.

Isso é o puro suco do futebol brasileiro, o puro suco do Brasil.

 

 

 

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Domínio do Brasil na América do Sul é o maior de um país em seu continente na atualidade

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

 

Teremos mais uma final brasileira na Libertadores. O que muita gente imaginava foi confirmado após os 4 a 0 do Flamengo no Vélez Sarsfield na Argentina. Se o português Vítor Pereira, o técnico do Corinthians, disse que houve um choque de realidade após ser derrotado em casa pelo Flamengo, imagine o choque de realidade que os argentinos e os demais vizinhos sul-americanos estão encarando diante do poderio econômico atual do futebol brasileiro em termos continentais. Será o quarto campeão seguido de Libertadores com passaporte brasileiro: Flamengo (2019), Palmeiras (2020 e 2021) e Athletico-PR/Flamengo/Palmeiras (2022). É uma sequência recorde para o país, igualando a série de taças de Internacional (2010), Santos (2011), Corinthians (2012) e Atlético-MG (2013). E a tendência para os próximos anos é de um domínio ainda maior dos brasileiros, a série recorde deverá aumentar.

Veremos neste ano pela terceira vez consecutiva uma final brasileira. Foi Palmeiras x Santos em 2020 no Maracanã, Flamengo x Palmeiras em 2021 em Montevidéu e agora em Guayaquil talvez a repetição da decisão do ano passado, o que seria algo inédito (já tivemos mais de uma final Boca Juniors x Santos e Estudiantes x Nacional, mas não em anos seguidos). Talvez o Athletico Paranaense se torne neste ano o 11º clube brasileiro campeão da Libertadores, o que simbolizaria ainda mais o domínio nacional no continente (seria o primeiro título de um time que não está entre os chamados 12 grandes do Brasil no mais nobre torneio da Conmebol). A Argentina tem “apenas” oito clubes campeões da Libertadores, os cinco considerados grandes mais Argentinos Juniors, Estudiantes e Vélez Sarsfield. Na lista total de títulos da Libertadores, os argentinos estacionaram em 25 taças, e os brasileiros já computam agora 22 troféus. Essa troca de bastão no topo parece questão de pouco tempo. Se contarmos os títulos por país desde 1992, quando o São Paulo de Telê abriu uma nova era na Libertadores para o Brasil, que passou então a valorizar mais a competição continental, vemos 17 conquistas brasileiras e 14 de todos os outros países juntos. Os uruguaios, outrora competitivos, não conquistaram mais nenhum título.  

Na temporada passada, também houve final brasileira na Copa Sudamericana. O Athletico ganhou seu segundo título do torneio ao superar Bragantino, uma decisão com dois times que viraram símbolo de boas administrações nos últimos anos. Neste ano, o São Paulo pode conquistar seu bicampeonato da Sudamericana ou podemos ver ainda um título inédito do Atlético-GO. A final em Córdoba no dia 1 de outubro deve ser contra o Independiente del Valle, clube que fez 3 a 0 na semifinal de ida contra o Melgar e que jogará fora de casa na prática na final, especialmente se a decisão for contra o São Paulo, cuja torcida deve promover uma invasão à Argentina (mais uma vez o fator econômico pesa nisso). São nove times brasileiros, muito possivelmente, na próxima edição da Libertadores. Quase metade dos clubes da Série A do Brasil disputam o principal título da América. Outros seis clubes do país jogam a Sudamericana na condição de fortes candidatos. A melhor campanha da fase de grupos da atual Sudamericana foi do Ceará, que deixou o “Rey de CopasIndependiente fora do caminho. O Dragão eliminou dois tricampeões da Libertadores na sua jornada até a semifinal da Sudamericana: Olimpia e Nacional.

Nunca a América viu um Flamengo e um Palmeiras tão fortes. O rubro-negro, dono da maior torcida e do maior faturamento do país mais rico da América do Sul, está na sua terceira final de Libertadores em quatro anos. O Palmeiras, que vive talvez a sua era mais dourada e endinheirada, estabeleceu o recorde de partidas sem derrota na Libertadores (18 jogos, empatado com o Atlético-MG, que também lucra com seu momento de maior investimento) e também a maior série sem perder como visitante (completou 20 jogos e, agora, caiu enfim na Arena da Baixada). Flamengo e Palmeiras tinham apenas um título da Libertadores até poucos anos, mas agora ameaçam criar uma hegemonia no torneio que ameaça os maiores campeões da história (o Boca Juniors tem sido sistematicamente eliminado por brasileiros e já não ganha a Libertadores desde 2007). O River Plate de Marcelo Gallardo, o melhor clube da América na década passada, não consegue competir financeiramente com os times mais poderosos do Brasil. Na final de 2019, o então presidente do River Plate, Rodolfo D’Onofrio, destacou que o Flamengo faturava dez mais vezes de TV do que seu clube. O abismo no continente é real!

Pedro, artilheiro da atual Libertadores, comemora com Gabigol, que vai ser o brasileiro com mais gols na história da Libertadores em breve
Pedro, artilheiro da atual Libertadores, comemora com Gabigol, que vai ser o brasileiro com mais gols na história da Libertadores em breve Buda Mendes/Getty Images

 

Agora que está bem claro o domínio dos clubes brasileiros na América do Sul, vamos mudar o foco para outros continentes. No momento, nenhum outro país do mundo possui uma hegemonia como a brasileira em sua região. Na Concacaf, após 16 anos de domínio mexicano na Concachampions, o Seattle Sounders ficou com o título e vai jogar o Mundial de Clubes. Já na África, o Wydad, tradicional time marroquino de Casablanca, acabou com o império do Ah Ahly, popular clube egípcio que é o maior campeão africano. Na Ásia, os últimos três campeões são de três países diferentes: Japão, Coreia do Sul e Arábia Saudita. O Urawa Red Diamonds já está na final, onde talvez não esteja o campeão vigente da disputa: o saudita Al Hilal. Na Oceania, o detentor do título no momento é o de quase sempre, o Auckland City, da Nova Zelândia. Mas o campeão anterior era o Hienghène Sport, da Nova Caledônia. Nos dois últimos, a pandemia parou a bola lá.

Se formos para a Europa, onde o futebol tem seu maior nível e onde é mais díficil exercer um domínio por muito tempo, temos três países diferentes vencendo a principal taça nos últimos três anos. Alemanha (Bayern de Munique-2020), Inglaterra (Chelsea-2021) e Espanha (Real Madrid-2022) venceram a Champions League recentemente. Na Liga Europa, os espanhóis vinham doutrinando em termos de títulos, notadamente com o Sevilla, mas o Eintracht Frankfurt, da Alemanha, ganhou a última final em cima do Rangers, da Escócia. Ingleses endinheirados ficaram com os títulos do torneio em 2013 (Chelsea), 2017 (Manchester United) e 2019 (Chelsea). A primeira edição da Conference League foi vencida pela Roma de José Mourinho. Um clube italiano não vencia um torneio oficial da Uefa desde 2010, quando a Inter de Milão de Mourinho conquistou a Champions. Ou seja, estamos vendo na Europa muita disputa em todos os torneios, com clubes de vários países sonhando com o sucesso maior. Alguns times com muito investimento, casos de Manchester City e Paris Saint-Germain, ainda não conseguiram o troféu dos sonhos mesmo com toda a gastança recente. O dinheiro faz diferença em qualquer parte do mundo, mas é na América do Sul que o abismo econômico está levando cada vez mais a um “clubinho privê” de campeões.   

Eu sairei de férias neste setembro e vou dar uma parada nesse período com o blog. Já viajarei sabendo que o campeão da Libertadores será de novo brasileiro. Resta saber se o campeão da Copa Sudamericana também será do nosso país. E se o Brasil conseguirá estender esse domínio na América do Sul para a Copa do Mundo no final do ano e para o Mundial de Clubes em 2023.

 

 

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Domínio do Brasil na América do Sul é o maior de um país em seu continente na atualidade

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Campeonato Ucraniano é retomado em meio a sirenes, bombardeios e logística de guerra

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

O Campeonato Ucraniano não está entre os melhores do mundo, mas ele vai ganhar agora muito mais holofotes, além de sirenes, bombardeios e operações de guerra. O torneio foi retomado oito meses e meio depois. A última partida tinha sido no dia 12 de dezembro de 2021, quando o Kolos Kovalivka venceu o Mynai por 2 a 1 pela 18ª rodada do campeonato 2021/2022. Isso foi antes da tradicional parada de inverno e da invasão russa ao território ucraniano. Os jogos foram paralisados, e o campeonato foi dado como terminado. Ele volta agora em data simbólica para a Ucrânia, o Dia da Bandeira, véspera da Independência do país.

A disputa acontece com a ameaça de ataques aéreos. Um jogo de juniores entre Chornomorets e Veres já teve que ser paralisado após sirenes alertarem para a iminência de bombardeio. Os alarmes tocam de forma contínua por 30 segundos e, pelo protocolo, os times deixam o jogo correndo para abrigo que fica a cerca de 500 metros do campo. Essa partida foi retomada 25 minutos depois quando havia um pouco mais de segurança. Todos os jogos são disputados com portões fechados

Basicamente, as partidas acontecem no oeste do país, onde a Rússia ainda não controla o território. Além do futebol profissional estar de volta, foram retomados na Ucrânia os confrontos entre times de base e também de futebol feminino. A decisão de voltar foi dada há um mês por Vadym Gutzeit, ministro da Juventude e dos Desportos.

Quase todas as equipes do Campeonato Ucraniano indicaram dois ou três estádios para jogar. A liga nacional ainda não aprovou todos os locais. O caso mais delicado é o do Kryvbas, de Kryvyi Rih, que fica a apenas 40 km da zona de conflito. Olexandria e Inhulets, de Petrove, indicaram estádios de suas cidades, mas as autoridades devem vetar jogos nesses lugares por questões de segurança e logística. Os deslocamentos internos na Ucrânia continuam complicados. A capital Kiev deve receber assim a maior parte dos jogos, divididos em três estádios. Os times do país que jogam competições internacionais, incluindo o Dinamo de Kiev, podem jogar em Lviv, cidade no extremo oeste da Ucrânia que tem acesso mais fácil para quem vem do exterior.  

Não houve campeão nem rebaixados no Ucraniano 2021/2022. Porém dois times que estavam na disputa não jogarão na edição que começa agora por conta da invasão russa: Mariupol e Desna. Eles serão substituídos por Metalist Kharkiv e Kryvbas, que eram os líderes da Segundona quando houve a paralisação. A primeira rodada inicia com apenas cinco jogos porque Dinamo de Kiev e Dnipro têm duelos internacionais, contra Benfica e AEK Larnaca, respectivamente. Outro jogo adiado é o do Mynai-Lviv, pois o estádio de sua cidade, que também deve ser usado pelo Vorskla, não está pronto. O Veres vai jogar como visitante em todas as primeiras rodadas até que seu estádio em Rivne fique disponível.

A decisão da Fifa de autorizar os jogadores estrangeiros que atuam na Ucrânia a sair do país e acertar com outros clubes esvaziou bastante o Campeonato Ucraniano atual. Todos os atletas brasileiros do Shakhtar, por exemplo, deixaram a equipe. Mas o ala-direito paulista Lucas Taylor chegou agora para o time por empréstimo (estava no PAOK). Com o mercado aberto até o final do mês, é bem possível que os clubes ucranianos tentem contratar às pressas alguns outros jogadores estrangeiros. Na temporada passada, havia 98 atletas estrangeiros inscritos no Campeonato Ucraniano. Esse número caiu para 45 agora. 

O Shakhtar foi o time que mais sofreu com o êxodo: tinha 14 “gringos” em seu elenco há um ano, mas agora conta só com três.

Militares serão os únicos que estarão nas imediações dos estádios. São 16 times na disputa, e o Dinamo de Kiev defende o título que foi conquistado na temporada 2020/2021. O campeonato atual é visto como uma forma de mostrar resistência aos russos, uma prova de nacionalismo ucraniano em meio ao conflito, que começou para valer no dia 24 de fevereiro com a invasão russa. Os efeitos da crise entre Ucrânia e Rússia no futebol já vêm de longa data. Um exemplo disso é o que aconteceu com o Zorya, que mudou em 2014 de Lugansk para Zaporijia após a anexação da Crimeia e o conflito na região de Donbass. O time agora vai mandar seus jogos em Uzhgorod. O Shakhtar teve o seu estádio bombardeado e teve que se mudar de Donetsk para Lviv e Kharkiv antes de se transferir definitivamente para a capital Kiev. O Tavriya Simferopol sofreu muito após a anexação da Crimeia pela Rússia. Ele teve que mudar seu nome para TSK Simferopol para competir entre os russos. Depois, tentou jogar na segunda divisão ucraniana com o nome original, porém a ocupação russa em Kherson acabou decretando o fim definitivo da equipe.

Shakhtar Donetsk, que contava com legião de brasileiros, voltará a jogar após paralização do Campeonato Ucraniano
Shakhtar Donetsk, que contava com legião de brasileiros, voltará a jogar após paralização do Campeonato Ucraniano ARIS MESSINIS/AFP/Getty Images | GENYA S

Um atração do novo Campeonato Ucraniano é o Kryvbass, time da cidade do presidente Volodymyr Zelesnky. O técnico da equipe é Yuriy Vernydub, ex-treinador do Sheriff que renunciou ao comando do clube para se incorporar ao exército ucraniano. Ele teve autorização do Ministério da Defesa para conciliar os treinamentos do time com a sua atividade militar. 

“Trata-se de uma iniciativa única na história. Futebol contra a guerra em ambiente de guerra. Futebol pela paz”, afirmou Andriy Pavelko, o presidente da federação ucraniana de futebol. “Atráves do futebol poderemos agradecer tudo que os soldados ucranianos têm feito por nós”, disse, por sua vez, Igor Jovicevic, técnico do Shakhtar.

Há ainda uma guerra comercial também em torno da liga ucraniana. Com todos os jogos sem torcida, os direitos de TV da competição foram negociados com a Setanta Sports, que exibiria todas as partidas em TV aberta, mas a 1+1 anunciou que vai transmitir as partidas dos clubes com quem já tinha contrato: Dinamo de Kiev, Dnipro, Zorya e Metalist Kharkiv. A liga ucraniana entrou com recurso na Justiça. Mas esse é um problema muito menor diante de tudo o que está acontecendo na Ucrânia.

 

 

 

 

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Campeonato Ucraniano é retomado em meio a sirenes, bombardeios e logística de guerra

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Por que o São Paulo é o menos cotado na semifinal da Copa do Brasil e é favorito na Sul-Americana?

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

Muitos são-paulinos, eufóricos com a presença de seu time nas semifinais de dois importantes torneios, estão me chamando de clubista porque eu disse no Linha de Passe que o São Paulo é o mais fraco dos quatro sobreviventes na Copa do Brasil. Estão dizendo que sou corintiano e flamenguista, o que não é verdade, eu juro. Vou mostrar aqui meus argumentos e explicar melhor por que acho o São Paulo o favorito para ganhar a Copa Sul-Americana e o menos forte dos times envolvidos ainda no maior mata-mata nacional.  No fim, deixarei mais claro ainda outra coisa.

Primeiro, vamos ver a tabela do Campeonato Brasileiro. Após 22 rodadas, o Flamengo é o vice-líder e está em grande momento com Dorival Júnior, com muitas de suas estrelas jogando em alto nível, inclusive Pedro, que deve ir para a Copa do Mundo. O Corinthians tem os mesmos 39 pontos do Flamengo e ocupa a terceira colocação, renasceu no torneio após conseguir uma virada incontestável (com goleada) sobre o Atlético-GO, semifinalista da Copa Sul-Americana. O Fluminense tem apenas um ponto a menos do que Flamengo e Corinthians e fecha o G4, tendo produzido nos últimos meses um futebol vistoso muito pelas mãos de Fernando Diniz e dos pés do Ganso, figuras que o são-paulino conhece bem. O sofrido e apaixonado torcedor são-paulino, que tem dado show e demonstração de apoio no Morumbi e fora de casa, pode dizer e se orgulhar que eliminou da Copa do Brasil o líder do Brasileiro, o rival Palmeiras, mas isso não dá garantia nenhuma de que vai deixar para trás agora os outros três times do G4.  

Vamos falar agora de finanças e elenco. O Flamengo sobra na turma, aliás esbanja craques e boa saúde financeira, tanto que agora cogita até fazer um estádio com capacidade para mais de 100 mil pessoas. Esse momento de solidez rubro-negra o coloca como grande favorito na Copa do Brasil. Venceu os últimos quatro jogos que disputou contra o São Paulo até com certa tranquilidade (5 a 1, 4 a 0, 3 a 1 e, mais recentemente, um 2 a 0 no Morumbi preservando alguns titulares). Se historicamente o Tricolor do Morumbi leva boa vantagem sobre o Flamengo, o momento pesa muito a favor do clube carioca. No Maracanã ou no Morumbi, é o mais cotado para vencer na atual conjuntura.

O Corinthians possui, sim, problemas financeiros como o São Paulo, ainda tem um estádio para pagar (embora, após acordo, isso seja feito em muitas prestações camaradas), mas investiu nos últimos meses em vários jogadores de bom nível e em um técnico estrangeiro com bom currículo. Por ter trazido nomes como Renato Augusto, Roger Guedes, Willian, Paulinho e Giuliano, o clube alvinegro inspirou Rogério Ceni e Muricy Ramalho a cobrarem da diretoria tricolor a contratação de reforços, caso contrário o time brigaria contra o rebaixamento mais uma vez (aliás não passei a classificação do Tricolor no Brasileiro: 11º lugar, nove pontos atrás do G4 e seis acima da zona da degola). O Corinthians tem ainda o seu melhor goleiro da história, Cássio, e outros jogadores históricos do clube, como Fagner e Gil. Trouxe mais recentemente Yuri Alberto, que demorou a desencantar mas que já fez o seu tradicional hat-trick. O Corinthians não venceu ainda o São Paulo nesta década, isso é verdade, mas o Tricolor ainda não sabe o que é ganhar uma partida em Itaquera ainda.    

O Fluminense tem uma ótima espinha dorsal em seu time, com o experiente goleiro Fábio (os são-paulinos pouco confiam em seus arqueiros, nenhum deles chegou para ser titular), com o zagueiro Nino, com o volante André, com o meia Ganso e com o atacante Cano, que tem feito muito mais gols do que Calleri. Assim como o São Paulo, o Tricolor das Laranjeiras vive muito nos últimos anos de sua base, que exporta bons jogadores e mantém o clube vivo financeiramente. Se não nada em dinheiro, parece que o Flu não está em “colapso financeiro”, como Rogério Ceni descreveu administrativamente seu clube. Em um confronto recente no Morumbi, vimos um bom empate em 2 a 2, com Fernando Diniz cobrando seu time por ter perdido dois pontos fora de casa, prova da ambição da equipe carioca e especialmente de seu treinador diferenciado (para os padrões brasileiros). O Fluminense talvez não tenha um elenco melhor do que o São Paulo, porém seu desempenho em campo tem sido bem superior. A equipe de Rogério Ceni oscila mais e tem avançado nas copas com sofrimento, às vezes nas disputas de pênalti (casos de Ceará e Palmeiras), e às vezes com o time levando sufoco no fim, como foi contra o América-MG, sobretudo após a expulsão de Miranda.     

Os técnicos Rogério Ceni e Dorival Junior
Os técnicos Rogério Ceni e Dorival Junior Rubens Chiri/saopaulofc.net | Ricardo Mo

Agora, é hora de analisar o calendário. Flamengo e São Paulo ainda estão em duas copas, mas o elenco rubro-negro tira isso de letra, uma vez que possui um time reserva melhor do que muitos outras equipes da Série A, inclusive o Tricolor do Morumbi. O Fluminense e o Corinthians estão muito focados na Copa do Brasil, devem poupar jogadores no Brasileiro para concentrar forças no mata-mata nacional. Enquanto isso, o São Paulo estará dividido com a Copa Sudamericana, competição que tem reais chances de ser campeão mais uma vez (venceu o torneio em 2012, uma rara conquista do clube desde a última era dourada em 2008).  O departamento médico do São Paulo, onde estará ainda por um bom tempo Arboleda, costuma ficar cheio, e a maratona de jogos do clube só tende a complicar mais a situação. A equipe está no limite e precisa jogar no limite para competir com os mais fortes.   

Se o São Paulo é para mim a quarta força da Copa do Brasil dentre os semifinalistas (confira nas casas de apostas quem é o menos cotado para ser campeão do torneio e veja se estou mentindo), entendo que o time é o grande favorito para ganhar a Copa Sudamericana. Vai enfrentar na semifinal, decidindo no Morumbi, o Atlético-GO, que luta contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro e que tem levado algumas goleadas recentemente (4 a 1 Corinthians, 4 a 1 Flamengo e 4 a 1 Athletico). Com Jorginho no olho do furacão por conta de seus ataques a Abel Ferreira, a situação é mais favorável ao São Paulo, que neste Brasileiro já venceu o Dragão fora de casa (2 a 1). Em uma hipotética final em Córdoba, na Argentina, certamente haverá uma invasão são-paulina para lotar os mais de 50 mil lugares do estádio Mario Kempes. O adversário terá muito possivelmente pouca torcida na decisão, seja ele o Independiente del Valle ou o Melgar, o grande azarão do torneio. O São Paulo fez a segunda melhor campanha no torneio até as quartas de final, quando eliminou o time de melhor campanha, o Ceará. O elenco tricolor é bem mais caro e melhor do que os dos outros três semifinalistas. Eu não queria dizer que agora é uma obrigação para o São Paulo ganhar a Copa Sudamericana, mas é quase isso.  

Assim como não tenho medo de afirmar que o São Paulo é quem mais corre muito por fora na Copa do Brasil (é o único dos semifinalistas que ainda não possui esse título, tem mais esse tabu e esse peso para carregar), não tenho receio nenhum em dizer que o São Paulo deve ser o campeão da Copa Sudamericana, o que seria o 13º título internacional oficial do clube, sendo que já é o recordista brasileiro nesse quesito. O título da Sudamericana valeria ainda vaga direta na fase de grupos da Libertadores (o que parece quase impossível via Brasileiro), e a chance de disputar a Recopa contra o campeão da América deste ano. Talvez resgatem até a antiga Copa Suruga/Levain Cup, que não teve suas duas últimas edições por conta da pandemia e da Olimpíada de Tóquio.

Imagino que os são-paulinos até prefiram neste momento o título da Copa do Brasil, por ser inédito e por dar R$ 60 milhões ao seu campeão, mas também porque é mais difícil mesmo. Imagina o que significaria para o São Paulo, nesta fase de vacas magras, conquistar a primeira Copa do Brasil em cima do maior rival (Corinthians) após ter eliminado o Palmeiras (segundo maior rival) e o poderoso Flamengo. Sonhar não custa nada, e o papel do torcedor é pensar de forma positiva mesmo. Só que minha análise é mais fria e técnica: as chances são-paulinas nas duas copas que disputa são completamente diferentes. Respeito demais o São Paulo e sua história, mas isso não me impede de mostrar as dificuldades que o clube e sua torcida têm enfrentado nos últimos anos. Eu tenho dito, já faz algum tempo, que a melhor coisa do São Paulo tem sido seu cada vez mais fervoroso e presente torcedor. E eu me identifico bastante com essa turma, embora eu seja um torcedor mais das antigas, das épocas mais gloriosas. Para quem não sabe, eu costumo torcer em cada país para o time de maior tradição internacional, e no Brasil não é diferente.   

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Palmeiras de Abel vira gigante da América e é comparado ao São Paulo de Telê e ao Boca de Bianchi

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

“Nunca dê por morto um gigante. Dissemos isso na ida e agora na volta”, disse comentarista da ESPN argentina antes do pênalti que selou a épica classificação do Palmeiras para as semifinais da Conmebol Libertadores. A narração internacional mostra bem o que o time de Abel Ferreira virou no nosso continente. Grande o Palmeiras sempre foi, mas gigante na América mesmo virou nesta incrível passagem do técnico português pelo clube. São 18 jogos sem perder de forma consecutiva no nobre torneio da Conmebol, igualando o recorde do Atlético-MG, mais uma vez vítima do alviverde imponente. São 20 partidas sem perder na Libertadores atuando como visitante, pulverizando o recorde que era do ótimo River Plate de Marcelo Gallardo. O Palmeiras deixou bem para trás todos os outros brasileiros na tabela histórica de pontos da Libertadores, sendo superado apenas de clubes tradicionais que jogaram a competição inúmeras vezes desde os primórdios: River Plate, Nacional, Boca Juniors, Peñarol, Olimpia e Cerro Porteño.    

'Nunca dê por morto um gigante!': A narração de Palmeiras x Atlético-MG na ESPN Argentina

São 10 semifinais agora para o Palmeiras na Libertadores, igualando as marcas de Grêmio e São Paulo, outros tricampeões do torneio. Os dois tricolores vêm logo abaixo do Verdão na tabela histórica de pontos da principal competição da América. Foi nesta era Abel que o Palmeiras passou e abriu frente sobre esses dois tradicionais adversários. Um bicampeonato seguido da Libertadores já colocaria por si só o atual no Palmeiras em uma prateleira de times históricos, algo que pode ser maximizado com um tri genuíno, algo que apenas Estudiantes (1968/1969/1970) e Independiente (1972/1973/1974/1975) conseguiram. Já podemos comparar o Palmeiras atual com vitoriosos esquadrões que marcaram época, como o Boca de Bianchi e do São Paulo de Telê. Quem pensa assim é Sergio Levinsky, experiente jornalista argentino que hoje é correspondente na Espanha sem deixar de falar e escrever bastante sobre as competições sul-americanas.  

“O Palmeiras é um dos times mais fortes da era moderna. Dos times com ciclos vencedores, é o São Paulo de Telê, depois o Boca de Bianchi e depois vejo o Palmeiras. Dos últimos 30 anos, vejo o Palmeiras como um dos três ou quatro mais fortes. Faltou um pouco de continuidade e mais títulos ao River de Gallardo. Me parece que os três mais fortes foram o São Paulo de Telê, o Boca de Bianchi e o Palmeiras de agora. Contra o Atlético-MG, perdia por 2 a 0 e outra equipe ali normalmente perderia. E ele empatou no final. O Palmeiras tem o caráter necessário, a mente aberta para ganhar. Como já ganhou muito, tem essa fortaleza.  O Boca de Bianchi tinha muita força mental”, afirmou Levinsky.

Segundo ele, houve um crescimento natural do time nos últimos dois anos. “Me parece que o Palmeiras de Abel teve uma evolução muito grande. Na primeira Libertadores que ganhou, foi muito conservador, com muita gente atrás e se aproveitando cada erro dos adversários. Esteve muito perto de ser eliminado pelo River em São Paulo na semifinal. Depois, melhorou. Parece que tirou um peso após ganhar a primeira Libertadores. Começou a jogar melhor e o vejo como um time muito seguro, tem bons jogadores que sabem muito bem o que fazer. Perdeu alguns jogadores, mas trouxe outros, alguns de Argentina. Há alguns desequilibrantes, como Veiga, Scarpa, Rony... Gustavo Gómez atrás. Eu o vejo como o principal candidato a ganhar a Libertadores. É o melhor time desta edição. Me surpreendeu o limite que alcançou contra o Atlético-MG, na ida e na volta.”  

Abel Ferreira, técnico que disputa sua terceira Libertadores pelo Palmeiras e pode ganhar um tricampeonato dizimando recordes da América
Abel Ferreira, técnico que disputa sua terceira Libertadores pelo Palmeiras e pode ganhar um tricampeonato dizimando recordes da América Ricardo Moraes/Getty Images

 

Para Sergio Levinsky, o Flamengo de hoje também goza de muito respeito na Argentina, mas mais pelo individualismo. “Palmeiras e Flamengo são respeitados hoje na Argentina de forma quase igual. Há uma ideia de pensamento mais coletivista, de mais conjunto, e esses respeitam mais o Palmeiras. Mas tem outro grupo que pensa mais nos jogadores, esses respeitam muito o Flamengo pelo individual. A ideia na Argentina é que o elenco do Flamengo é mais poderoso, futebolisticamente falando, possui jogadores mais capazes, tem um grupo milionário. A sensação que o Palmeiras passa é de mais estrutura, mais equipe, mais coletivo. Creio que é um duelo parelho entre eles, cada um com suas virtudes. Na Argentina, a maioria das pessoas acredita em mais uma final entre eles”, afirmou o jornalista argentino ao blog.    

Caso o Flamengo, que pega o Vélez Sarsfield na semifinal, seja campeão, entrará para o clube dos tricampeões da América. Já o Palmeiras, se for tetra, ficará atrás em número de títulos apenas de Independiente, Boca Juniors e Peñarol. A escalada do futebol brasileiro nos torneios da Conmebol passa muito pelo maior poderio financeiro dos times do país. Flamengo e Palmeiras se organizaram melhor administrativamente e hoje fazem um verdadeiro clássico continental. Já tivemos finais repetidas na história da Libertadores (Boca x Santos e Estudiantes x Nacional), mas nunca houve finais repetidas em anos consecutivos. A América contempla agora e reverencia o gigante Palmeiras, bicampeão vigente, mas o Flamengo também está crescendo e busca fazer uma hegemonia como outros times lendários fizeram.

 

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A abstinência de Premier League acabou, e eu reencontro um amor que já dura duas décadas

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

Há paixões que perduram com o tempo e geram uma crise de abstinência quando ficam um tempo 'congeladas'. A Premier League é assim no Brasil: quando chega a última rodada, muita gente já fica saudosa do campeonato nacional mais badalado do planeta, e quando o Inglês volta, como agora, há uma sensação de felicidade e satisfação, como se tivéssemos mesmo reencontrando um grande amor que marcou tanto a nossa história. Eu já curtia futebol inglês mesmo antes da Premier League, mas tive a honra de comentar o campeonato desde o início regular das transmissões nos canais ESPN. São quase 20 temporadas comentando a PL desde aquela façanha do Arsenal campeão invicto em 2003/2004.

O lendário Arsenal campeão invicto em 2003/2004, temporada em que começou de forma regular a transmissão da Premier League na ESPN no Brasil
O lendário Arsenal campeão invicto em 2003/2004, temporada em que começou de forma regular a transmissão da Premier League na ESPN no Brasil Matthew Ashton/EMPICS via Getty Images

 

Vemos cada vez mais no Brasil o impacto da Premier League nas novas gerações. Acabei de ver em rede social um garoto que de fato se chama Dydye Drogba Bageston dos Santos, que é um atleta jovem do Náutico. Nos últimos anos, tenho dado entrevistas para vários perfis que tratam do Campeonato Inglês e para alguns estudantes que se aprofundaram na análise da popularização da Premier League no Brasil neste século. Fiz matéria na Folha quando começou para valer a febre d0 Campeonato Inglês no Brasil. As mídias sociais ainda estavam engatinhando. Alguns dos perfis de torcidas de times ingleses tinham poucos seguidores na época, mas isso se multiplicou de tal forma que hoje o mercado já se preocupa com a adoração nacional pelos clubes da terra da rainha. Pesquisa recente sobre torcidas no Brasil ignorou esse pequeno percentual que escolhe torcer um por um time estrangeiro. Mas quem lida com transmissões de futebol há muito tempo e frequenta mídias sociais sabe que já temos um número bem expressivo de adoradores de verdade dos times de fora.

Liverpool busca empate contra Fulham em sua estreia na Premier League com golaço de letra de Darwin Núñez; veja os melhores momentos

Nesta temporada, que promete uma nova briga de título entre Manchester City e Liverpool, há uma briga considerável na parte de cima da tabela entre Chelsea, Tottenham, Arsenal e Manchester United, todos com boas novidades nesta janela de transferências. Meu primeiro jogo comentando será o duelo entre o Everton, bom time que não figura no chamado Big 6, contra os Blues, que passaram na temporada passada por um turbilhão com a saída de Roman Abramovich do comando do clube - o duelo começa às 13h30 (horário de Brasília) deste sábado (6), com transmissão ao vivo pela ESPN no Star+. Ele tinha estreado como manda-chuva do Chelsea justamente na temporada 2003/2004, a primeira que comentei de cabo a rabo na ESPN. Para quem é da velha guarda, há uma novidade e tanto nesta edição do Inglês. O Nottingham Forest, tradicional time que é bicampeão europeu, está de volta. Isso por si só já dá uma cara mais Old School para esta Premier League, se bem que praticamente todos os times na Inglaterra são muito tradicionais, uma vez que estamos falando da pátria-mãe do futebol.

A Inglaterra está cada vez mais respirando futebol, vem de um vice-campeonato europeu da seleção masculina e de um título continental no feminino, duas decisões que lotaram e mexeram com Wembley. As ligas nacionais inglesa, tanto no masculino quanto no feminino, são referências e modelo para todo o planeta. O Real Madrid pode ter sido campeão da Europa mais uma vez e o Paris Saint-Germain pode continuar montando uma constelação de craques, mas a Premier League se impõe mundo afora também pela competitividade, por um certo equilíbrio de forças, por reunir tantas equipes de alto nível. Fora isso, tem aquela atmosfera quase que única dos estádios ingleses e a tradicional intensidade dentro de campo que falta em tantas partidas de outros países. Por todo esse cenário, eu costumo dizer há alguns anos que a Premier League é o mais próximo que o futebol chega do videogame.

Alf-Inge Haaland, pai da nova estrela do Manchester City, já jogou no campeonato pelo time azul do filho e por Nottingham Forest e Leeds
Alf-Inge Haaland, pai da nova estrela do Manchester City, já jogou no campeonato pelo time azul do filho e por Nottingham Forest e Leeds Reprodução ESPN


Há pelo menos uns quatro jogos bem bacanas no Campeonato Inglês por rodada e hoje, com o streaming, é possível acompanhar de verdade todas as partidas da competição. Isso é um sonho para a turma da minha geração, que esperava um único jogo por domingo do Italiano para ver o que tinha de melhor no futebol mundial. Era a época em que o Calcio posava de Eldorado da bola, ostentando os melhores jogadores e a melhor liga nacional do mundo. Essa honraria mudou de mãos faz um bom tempo e, por mais que LaLiga e Bundesliga se esforcem, é muito difícil atingir o nível da Premier League, que ainda vê seus clubes atraindo legião de torcedores em partidas de pré-temporada na Ásia, na Oceania e na América do Norte. Não dá para calcular direito o número de torcedores mesmo dos times ingleses mundo afora. Se no passado isso se dava bastante pelo antigo domínio do império britânico em alguns países, agora não há mais fronteiras e idiomas que impeçam o futebol inglês de roubar a cena em visibilidade.  

Como costumo dizer, a Premier League não é para os fracos. Bola que quase não para durante o jogo, atletas que se matam mesmo em campo de forma leal e pouco simulam, técnicos de diversas nacionalidades que produzem um mix sensacional de estilos e personalidades, torcidas que amam de verdade suas camisas seculares e que hoje não são mais sinônimo de hooliganismo. Eu poderia escrever aqui mais um monte de coisas positivas sobre o Campeonato Inglês e oferecer mais argumentos para você curtir esta temporada que está começando, mas creio que isso não é mais necessário. A galera que curte a Premier League não precisa de um Haaland ou de um Conte para se sentir atraída pela disputa. Hoje, há amor de verdade pelos clubes envolvidos, tendo ou não jogadores brasileiros, estando ou não vivendo uma grande fase.

Resumindo, começou o mais diferenciado de todos os campeonatos nacionais. Curta a Premier League adoidado!

 

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A abstinência de Premier League acabou, e eu reencontro um amor que já dura duas décadas

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E a Holanda, pátria do lendário Rinus Michels, exporta a melhor técnica de futebol do mundo

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

Euro feminina: Com golaços, Inglaterra quebra tabu, goleia a Suécia e crava vaga na final


A Fifa elegeu Rinus Michels como o melhor técnico do século passado. O genial mentor do Carrossel Holandês ajudou a revolucionar o esporte com o chamado futebol total, que influencia desde os anos 70 até hoje quase todos os grandes times do planeta. E o mundo pode consagrar de vez agora a holandesa Sarina Wiegman como a melhor técnica de futebol. Campeã europeia em 2017 da Eurocopa com a Holanda, um título inédito para a seleção laranja, ela pode dar neste final de semana o primeiro título europeu da Inglaterra em uma final em Wembley que vai entrar para a história com recorde de público e de audiência. A rival Alemanha tem oito títulos europeus no futebol feminino e é uma das potências da modalidade, mas a campanha da Inglaterra de Sarina impressiona, com 20 gols marcados e apenas um sofrido (nas quartas de final, da Espanha). E tem a vantagem de jogar em casa, a vantagem que a Inglaterra tinha sobre a Alemanha na polêmica final da Copa de 1966. 

Em 2016 (ou seja, outro dia), Sarina completou sua licença de técnica e virou a primeira holandesa a trabalhar no futebol profissional em seu país como treinadora. Mas ela já completará no ano que vem duas décadas estudando e trabalhando em comissões técnicas. A ascensão dela foi meteórica e elogiável em todos os sentidos, aliando resultados rápidos e muito desempenho. Além do título europeu conquistado após seis meses apenas de trabalho na seleção holandesa, Sarina ficou famosa por promover o jogo ofensivo, vistoso, algo muito valorizado na Holanda. E o mesmo ela faz agora na seleção da Inglaterra, que não só vence mas encanta. Rinus Michels foi muito eleito o melhor técnico do século 20 porque criou um sistema inovador e ofensivo, um jeito cativante e revolucionário de jogar futebol. É uma lenda do futebol holandês, mas Sarina trilha já esse mesmo caminho, tanto que já tem merecida estátua na federação holandesa de futebol.

Antes de Sarina assumir a Holanda, a equipe tinha quatro derrotas em cinco jogos. O time mudou completamente em pouco tempo de trabalho com a genial treinadora, que deu força psicológica para o time também, outro ponto forte de seus serviços. Foi campeã da Euro em 2017 com um delicioso 4 a 2 na Dinamarca na final. Foi eleita naquele ano pela primeira vez a melhor técnica do mundo, algo que se repetiria em 2020 e que deve acontecer de novo nesta temporada, especialmente se ela vencer a final deste domingo contra a Alemanha, histórica rival para os holandeses. Apenas Rinus Michels, campeão da Eurocopa de 1988, e Sarina Wiegman levaram a seleção da Holanda a um troféu de primeiro nível. O genial treinador ajudou a mudar a história do Barcelona, levando nos anos 70 para o time catalão o estilo holandês de jogo que continua até hoje no clube, muito por conta da influência de Cruyff, o símbolo maior em campo do Carrossel Holandês. Sarina tem tudo para mudar a história do futebol feminino inglês com a campanha atual na Eurocopa. A liga inglesa já é uma das melhores do planeta, mas a seleção ainda não tem uma conquista relevante. Isso está prestes a mudar. E com um jogo bonito.

A holandesa Sarina Wiegman, que já foi eleita duas vezes a melhor técnica do mundo, pode dar título europeu inédito para a Inglaterra, repetindo o que fez na Holanda
A holandesa Sarina Wiegman, que já foi eleita duas vezes a melhor técnica do mundo, pode dar título europeu inédito para a Inglaterra, repetindo o que fez na Holanda Getty

Na Copa do Mundo feminina de 2019, a Holanda foi vice-campeã, perdendo a final para os Estados Unidos, maior potência da modalidade. Mas, assim como aconteceu com o mágico time de Rinus Michels em 1974, a equipe de Sarina Wiegman foi vice sendo exaltada pelo seu estilo vistoso ao longo do torneio. Ela virou a primeira mulher homenageada no jardim das estátuas da Federação da Holanda pela sua contribuição decisiva para o sucesso e desenvolvimento do futebol feminino no país. Aceitou trabalhar na seleção da Inglaterra, sendo a primeira técnica de fora do Reino Unido a assumir o comando das Leoas. Ela sucedeu o ex-jogador Phil Neville no cargo e pode agora superar Gareth Southgate, técnico da seleção masculina da Inglaterra que levou o time à final mas acabou ficando com o vice-campeonato europeu. Sarina estreou com um sonoro 8 a 0 na Macedônia do Norte e estabeleceu um recorde nacional na seleção inglesa ao aplicar uma goleada de 20 a 0 na Letônia nas eliminatórias para a Copa do Mundo (o recorde anterior era 13 a 0, o que mostra como a Inglaterra ficou ainda mais artilheira com a treinadora holandesa). Nos primeiros seis jogos de Sarina à frente da seleção inglesa, o saldo de gols foi absurdo: 53 gols marcados e nenhum sofrido.   

Como torcedor da Holanda, eu lamentei muito a saída de Sarina do comando da seleção laranja, mas entendo que sua ida para a Inglaterra (e seu possível bicampeonato pessoal na Eurocopa) vai acrescentar demais na sua carreira e também no desenvolvimento do futebol feminino devido ao seu estilo de jogo e de comando. Guardiola, considerado por muitos o melhor treinador deste século, causou uma pequena revolução ao se mudar para o futebol inglês. Sarina está fazendo o mesmo agora na terra da rainha. Aliás a Holanda também tem sua família real. Rinus Michels é o rei da prancheta, e Sarina já é uma admirável rainha do futebol.

 

 

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Valorizar títulos do passado é positivo, mas mania de unificar campeonatos tem muito de carência

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

A Conmebol discute agora a possibilidade de unificar os títulos da antiga Copa Conmebol, torneio dos anos 90, com a atual Copa Sul-Americana, que agora está sendo chamada de Sudamericana mesmo no Brasil por um pedido da entidade máxima do futebol sul-americano. O Atlético-MG, bicampeão da Copa Conmebol (ganhou a primeira edição em 1992 em cima do Olimpia e repetiu a dose em 1997 ao bater o Lanús na final), encabeça o pedido dos sete clubes campeões do extinto torneio de uma unificação. O movimento é parecido com o que unificou no Brasil os títulos nacionais, colocando no mesmo balaio a Taça Brasil, o Robertão o Campeonato Brasileiro. Há muito de política nesses pedidos, além de uma certa demonstração de carência. O aspecto técnico fica em segundo plano, embora possa render frutos em rankings.

Uma das motivações do Galo e dos outros campeões da Copa Conmebol com a unificação é ganhar mais pontos no ranking da Conmebol, que é utilizado para definir os cabeças de chave da Libertadores, por exemplo. O Atlético-MG, além de se transformar no maior campeão da Sudamericana conjuntamente com outros cinco clubes (com dois títulos), levaria cerca de 300 pontos a mais no ranking continental. A lista da Conmebol atribui pontos também pela história dos clubes na Libertadores e na Sudamericana. Muito por isso, os dois gigantes uruguaios (Nacional e Peñarol) ainda são vistos sistematicamente como cabeças de chave da Libertadores mesmo sem sucesso recente.  

A Conmebol tem seguido os passos da Uefa em vários sentidos, mudando o nome de seus torneios interclubes, lançando a final única em campo neutro, adaptando os formatos de disputa das competições etc. Teoricamente, o pedido de unificação vai levar em conta o que aconteceu com a antiga Copa da Uefa, que virou Liga Europa. São torneios similares no Velho Continente, ambos contando com os clubes mais bem classificados nos campeonatos nacionais que ficaram de fora da Copa dos Campeões da Europa e a atual Champions League. De fato a Copa Conmebol tinha essa característica e reunia até times de ponta, mas não possuía tantas equipes como acontece agora com a Copa Sudamericana. A Copa Conmebol era um mata-mata curto com quase sempre 16 equipes. A atual Copa Sudamericana tem uma fase de grupos e um total de 56 participantes, sendo que 12 deles passaram pela Libertadores. Claro que é uma competição maior e mais desafiadora agora do que era a Copa Conmebol, vencida até pelos garotos do São Paulo em 1994 (o Expressinho de Telê ganhou a final contra o Peñarol).

O pedido de unificação da Conmebol com a Sudamericana será submetido agora à Comissão de Clubes para um parecer. Essa comissão é formada por muitos clubes que não venceram a Copa Conmebol e alguns que ganharam a Copa Mercosul (Flamengo e Palmeiras). Esses vão pedir também que a Mercosul, uma disputa que durou apenas quatro anos e tinha caráter mais comercial, seja também unificada com a Copa Sudamericana? Lembro que a Mercosul convidava os times de maior torcida ou relevância à época em parte do continente (havia também a Merconorte). Não era um torneio com critério técnico, era mais um clube privê. Como de costume, a decisão passará pelo Conselho da Conmebol. Alejandro Domínguez, presidente da entidade, vai chancelar ou não essa unificação com o apoio de outros cartolas, como Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, e Oscar Harrison, presidente da federação paraguaia. Ou seja, como de hábito, teremos nesse processo de unificação dos títulos muito clubismo e politicagem.

Campeões da Copa Conmebol de 1993 pelo Botafogo, que agora será campeão da Copa Sudamericana se houver a unificação
Campeões da Copa Conmebol de 1993 pelo Botafogo, que agora será campeão da Copa Sudamericana se houver a unificação Divulgação/Botafogo
 

A CBF decidiu oficialmente unificar os títulos nacionais em 2010, uma decisão polêmica que foi motivada muito por alguns acordos políticos de Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF envolvido em casos de corrupção. Naquela época, ele tentou aproximação com alguns dos principais clubes do país (acenou com o reconhecimento do título brasileiro de 1987 para o Flamengo também, mas a Justiça e o Sport impediram essa oficialização). Teixeira ficaria de bem com Pelé, que venceu Taça e Brasil e Robertão, não o Campeonato Brasileiro propriamente dito (teve início em 1971). A base para unificar torneios tão diferentes (a Taça Brasil era uma copa, poderia ser unificada com a Copa do Brasil) veio de um dossiê montado por Odir Cunha, historiador do futebol ligado ao Santos, o grande beneficiado com a unificação.

O Galo ainda tenta na CBF o reconhecimento do título da Copa dos Campeões de 1937 como o primeiro Campeonato Brasileiro. O Vasco conseguiu disputar em 1997 a Supercopa (torneio que era restrito aos campeões da Libertadores) porque Eurico Miranda foi bem-sucedido no lobby para considerar o Sul-Americano de 1948 como Libertadores. Em vários Estados, clubes pleiteiam mais títulos reconhecidos. A Federação Paulista, por exemplo, proclamou o Juventus como campeão estadual de 1934 no ano passado. O Moleque Travesso, que na época era o Fiorentino, venceu uma liga que não contava com os grandes. O Palmeiras, então Palestra Itália, foi campeão em 1934 atuando na liga mais forte. O Verdão, aliás, vinha tentando o reconhecimento de mais dois títulos paulistas, os torneios extras de 1926 e 1938. Rivais zombam do Palmeiras por pedir de tempos em tempos à Fifa o reconhecimento da Copa Rio de 1951 como Mundial. Já festejou e se frustrou com sinais vindo da entidade máxima do futebol.

Eu valorizo demais a história do futebol, os mais variados campeonatos e entendo que todo clube deve se orgulhar muito mesmo de suas conquistas, mas não curto essa busca insana de reconhecimentos de títulos do passado como se esses precisassem de atualização para ter valor. A Copa Conmebol teve a sua importância nos anos 90, mais para alguns clubes do que para outros. Transformá-la em Sudamericana pode até fazer algum sentido, afinal são torneios com propósito e funcionamento bem parecidos, mas isso não vai fazer os clubes campeões ficarem ainda maiores no caso de uma unificação. A mesma coisa serve para outras unificações. O Uruguai se julga tetracampeão mundial por ter vencido os torneios olímpicos de 1924 e 1928 (além das Copas de 1930 e 1950). Está no seu direito e tem base histórica para se achar mesmo tetra, mas a Copa do Mundo de verdade nasceu em 1930. Aquelas duas medalhas de ouro são épicas e marcantes, serão sempre lembradas mesmo não sendo Mundial. O glorioso Botafogo, que pode agora ser campeão da Sudamericana porque venceu a edição da Copa Conmebol em 1993, não precisa forçar a barra para se proclamar tricampeão mundial por ter vencido três vezes o Triangular de Caracas.  

O Santos ganhou a Taça Brasil em 1963 e em 1965 fazendo apenas quatro jogos em cada edição. Enfrentou apenas dois adversários nessas duas conquistas (Bahia e Grêmio em 1963, Vasco e Palmeiras em 1965). E esses dois troféus valem hoje a mesma coisa, oficialmente, do que os títulos do Brasileiro que o Santos suou para ganhar em 2002 e 2004 (esse já nos pontos corridos), campeonatos com 26 e 24 participantes, respectivamente. Tentar equiparar coisas que são bem diferentes às vezes é complicado. E normalmente são necessárias pouquíssimas pessoas para dar uma canetada e chancelar título para esse ou para aquele. Há muitos interesses que não são os mais bacanas por trás dessas decisões.

Como eu costumo dizer, quem reconhece mesmo título é o torcedor. Cada um sabe o real valor que tem sua conquista. Ter ou não o respaldo e a chancela de uma federação é algo secundário. Pouco adianta ter um título reconhecido oficialmente se esse não é aceito pela maioria das pessoas. Às vezes, isso vira piada.

Taça da Copa Sul-Americana, que terá seis bicampeões (Atlético-MG, Athletico, Boca Juniors, Independiente, Lanús e São Paulo) se houver a unficação
Taça da Copa Sul-Americana, que terá seis bicampeões (Atlético-MG, Athletico, Boca Juniors, Independiente, Lanús e São Paulo) se houver a unficação GettyImages

 

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Reduzir torcedores de times europeus em outros continentes a simpatizantes é erro e dor de cotovelo

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

Tive a honra de comentar nesta terça-feira o clássico entre Manchester United e Liverpool disputado na Tailândia. A goleada de 4 a 0 dos Red Devils na estreia do ótimo Erik ten Hag foi acompanhada por mais de 50 mil pessoas, quase todas vestidas com os uniformes dos dois maiores clubes da Inglaterra. Muitos rostos pintados, várias bandeiras e até algumas tatuagens com escudos ou símbolos de Manchester United e Liverpool. Quem já esteve em países na Ásia, percebe a adoração que os times ingleses despertam na população. A força da Premier League se vê bastante nesses momentos. O alcance da liga nacional mais badalada do mundo em várias regiões do planeta é enorme. E tem gente aqui no Brasil que tenta minimizar essa paixão à distância pelos gigantes times europeus, como se esses torcedores doentes de outros continentes fossem meros fãs, simpatizantes, não devessem ser levados em conta em pesquisas de torcida global.   

“É a primeira vez que estou vendo eles jogarem no estádio”, disse, emocionado, o tailandês Termjit Trungchitvilas, que torce há três décadas já para o Liverpool, à France Presse. Ele exibia com orgulho a camisa dos Reds. Outro torcedor tailandês que foi ao estádio Rajamangala, entrevistado antes do início da partida transmitida pela ESPN, falava do encontro entre “os dois maiores clubes do mundo”. Para ele, não tem Real Madrid com suas 14 Champions nem nenhum time brasileiro, claro. Futebol inglês é visto e admirado há décadas mundo afora, algo que passou a fazer parte do nosso cotidiano no Brasil há aproximadamente 20 anos.

Ao comentar a partida, recebi várias mensagens de torcedores de Liverpool e Manchester United, muitos deles de grupos de seguidores dos dois times. E tem provocação de parte a parte, tem tiração de sarro e tem corneta no comentarista. Embora Jürgen Klopp tenha dito antes do clássico que “não existe amistoso entre Liverpool e Manchester United”, ele utilizou mais de 30 atletas na partida e pagou o preço com um 0 a 4. Eu citei as goleadas que os Reds deram nos rivais na temporada passada na Premier League (5 a 0 e 4 a 0) e teve perfil brasileiro de torcida do Liverpool ironizando meu comentário de que o time de Ten Hag estava dando uma espécie de troco. Claro que é um jogo de pré-temporada, o próprio treinador holandês disse que não é para se empolgar muito porque é só começo de trabalho, mas, como bem disse Klopp, “o resultado está lá”. Eram as duas camisas mais pesadas do futebol inglês em campo afinal.

O placar foi até enganoso pelo número de chances criadas pelo Liverpool, podia ter sido um espetáculo ainda melhor para os torcedores presentes e para quem viu o jogo pela TV se os Reds tivessem levado o duelo com um pouco mais de seriedade. Vários garotos foram lançados por Klopp neste festivo clássico, que foi praticamente definido no primeiro tempo pelo time quase que titular do Manchester United (Cristiano Ronaldo não atuou, e mesmo assim a torcida estava eufórica pelo clube, não por uma estrela popular). Claro que Salah chamou muito a atenção, hoje ele é um ídolo global e acabou de renovar seu contrato com os Reds, só que a massa que pagou no mínimo US$ 140 por um ingresso foi a campo para celebrar mesmo o time de coração.   

Não dá para medir ou calcular a maior torcida do mundo sem contar torcedores de todo o mundo. Liverpool e Manchester United não têm fanbase apenas no Reino Unido. São equipes globais, como são os gigantes clubes do Velho Continente. Há várias gerações essa equipes são vistas e admiradas. Muito por conta do império britânico e seus tentáculos mundo afora, há milhões de torcedores de times ingleses na Tailândia, na Índia, na África do Sul e em tantos outros lugares, como a Austrália, país que vai receber agora com festa o Manchester United para mais alguns jogos de pré-temporada. O Liverpool fará a alegria dos torcedores em Cingapura em duelo contra o Crystal Palace. Enquanto isso, o Tottenham para a Coreia do Sul e as estrelas da K-League colocando Son e companhia para brilhar em campo (foi a estreia de Richarlison pela equipe do norte de Londres). A tal da internacionalização é algo que os clubes ingleses alcançaram faz tempo. Nem precisam muito de sucesso em competições da Uefa e da Fifa para ter grande popularidade mundo afora. Basta estar na Premier League para ser visto e admirado no planeta inteiro.

Alguém vai dizer que eu estou exagerando e só estou fazendo este post porque comento há quase duas décadas a Premier League no país, mas essa competição virou febre e exemplo de excelência também por aqui. O Campeonato Inglês virou modelo para o mundo por uma série de fatores, um deles é justamente a paixão dos torcedores por seus clubes. E essa é uma paixão que há muito tempo atravessou fronteiras. Eu pude testemunhar isso in loco em viagens que fiz para a Ásia, para a África e para o Caribe ou mesmo neste ano participando do evento São Paulo Watch Party em meio ao duelo Liverpool x Manchester City pela FA Cup. Acompanhei com outros colegas da ESPN nesta semana uma apresentação de Jaime Blanco, assessor no gabinete do presidente de La Liga, e, para a surpresa de zero pessoas, ele destacou que a Premier League tem muita competitividade, citou o grupo de elite que é chamado Big 6, e falou da meta do Campeonato Espanhol de seguir esses passos (eu acho quase impossível um Big 6 na Espanha, pois Real Madrid e Barcelona não querem nunca ceder espaço aos outros e querem mais é integrar alguma Superliga).

Eu quero provocar as maiores torcidas do Brasil dizendo que os gigantes europeus são mais populares mundo afora? Não, estou fazendo apenas uma óbvia constatação. Alguém vai pegar no site da Fifa algum relato de maiores torcidas pelo mundo e não vai ver Real Madrid, Manchester United, Barcelona, Milan, Liverpool e Bayern no topo. Quero explicar que a Fifa não conta torcedores. Ela reproduz em suas mídias às vezes reportagens e relatos feitos por terceiros. Torcidas numerosas de alguns países, casos do egípicio Al Ahly ou do iraniano Esteghlal, são normalmente esquecidas nessas listas que destacam Flamengo, Boca Juniors, Chivas e outros times muito populares de países com tradição expressiva no futebol. Como se o Egito ou o Irã ou a China não fizessem parte do planeta. Repito o que digo há tempos: para definir quais são as maiores torcidas do mundo é preciso levar em conta nas pesquisas todos os torcedores do mundo. E, assim como uma pessoa na Amazônia torce de verdade para um clube do Rio, um cidadão na Tailândia torce de verdade para um time inglês.   

 

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Vitórias épicas de Corinthians e Inter mostram domínio brasileiro mental e 'Complejo de chucho'

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

Houve um tempo em que se falava do “Complexo de vira-lata”, sobretudo no futebol brasileiro após o Maracanazo em 1950. Essa linha de pensamento era pautada pela inferioridade em que o brasileiro de uma forma geral se colocava diante dos estrangeiros. Nelson Rodrigues, que elaborou esse conceito, disse que o brasileiro era um “narciso às avessas” e que “não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima”. Isso começou a mudar no futebol com a conquista da Copa do Mundo de 1958, na Suécia. A seleção brasileira passou a ser bastante temida e admirada mundo afora, virando motivo de orgulho para o povo. Mas mesmo após isso, nas competições interclubes da Conmebol, continuamos ouvindo aqui e acolá algo sobre a fragilidade mental dos brasileiros, de como argentinos e uruguaios têm mais controle na hora decisiva, de como nossos times e jogadores pipocam.  

A situação mudou bastante nos últimos anos, quando vemos um avassalador domínio brasileiro na Libertadores e agora também na Copa Sul-Americana. As classificações épicas do Corinthians (contra o outrora ameaçador Boca Juniors em plena Bombonera)  e do Internacional (contra o grande Colo Colo que tinha uma boa vantagem) nesta semana passam muito pela confiança, por acreditar sempre, pela força mental, algo que Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, destaca muito, inclusive em seu livro. O atual bicampeão da Libertadores é o grande favorito para ganhar mais um título continental não apenas porque investiu pesado no time, mas também porque tem quase sempre a cabeça no lugar. Por isso também estabeleceu o recorde de partidas sem derrota como visitante na Libertadores, o time não sucumbe sob pressão.

O Corinthians, segundo o próprio técnico Vítor Pereira, poderia estar brigando contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro se não fossem os “miúdos”, os jogadores mais jovens. E esse time, cheio de desfalques e problemas, vai a Buenos Aires eliminar um Boca completo na assustadora Bombonera. Os corintianos mais antigos vão se lembrar de tantas campanhas internacionais do Timão em que a equipe, mesmo forte ou preparada, tombava muito pelos próprios nervos, com tolas expulsões ou falhas individuais. A classificação heroica na Bombonera, na minha opinião, é a segunda maior façanha do Corinthians na história da Libertadores (a maior, claro, é o título invicto em 2012). O rival argentino teve chances claras para matar o jogo no tempo normal e mesmo na disputa de pênaltis. Quem falhou demais e pipocou feio foi o badalado atacante argentino Benedetto. Imagine se fosse um jogador do Corinthians que tivesse tido uma atuação nota 1 em Libertadores antes de 2012.

Benedetto, atacante argentino que desperdiçou dois pênaltis na eliminação do Boca Juniors para o Corinthians na Libertadores
Benedetto, atacante argentino que desperdiçou dois pênaltis na eliminação do Boca Juniors para o Corinthians na Libertadores Stringer/Anadolu Agency via Getty Images

Eu participei do programa F90 na ESPN no dia do jogo e, para meu espanto, havia muita confiança na classificação por parte de torcedores corintianos que foram a Buenos Aires, além de palpites otimistas dos meus companheiros de trabalho. Eu fui mais pela lógica ao apontar o favoritismo do Boca, isso olhando para o estádio, para a história e para os desfalques do Corinthians. Porém um torcedor do Boca entrevistado antes do jogo mostrava um profundo respeito pelo time visitante mesmo nessas condições, basicamente por “ser brasileiro”. Ali era possível perceber como os nossos vizinhos veem hoje o futebol do nosso país, muito mais endinheirado e poderoso. Foi-se o tempo em que o Boca metia medo, em que o time xeneize era tão frio que vencia todas as disputas de pênaltis, que os brasileiros, sobretudo mais jovens, amarelavam. Os miúdos do Corinthians saíram vivos e muito mais fortes da Bombonera depois dessa demonstração de fibra.

Algo parecido pode ser dito do Inter na Copa Sul-Americana. O time de Mano Menezes perdeu a partida de ida contra o Colo Colo por 2 a 0 e, no Beira-Rio, levou o primeiro gol. Tudo parecia perdido para os colorados, porém veio a virada com goleada e classificação: 4 a 1. Duas camisas pesadas e tradicionais do nosso continente, mas o Colo Colo naufragou no final, assim como fez na Libertadores quando encontrou com o Fortaleza. As equipes brasileiras estão sim mais organizadas institucionalmente, mais firmes economicamente e mais recheadas de talento (contratam vários jogadores e treinadores de destaque dos outros países sul-americanos). Estamos vendo já um abismo entre os brasileiros e os vizinhos, tanto que as duas últimas finais da Libertadores foram com times do nosso país, além da Sul-Americana passada ser definida entre Athletico e Bragantino. O Brasil ganha hoje na quantidade de times, na qualidade das equipes e na confiança. Mesmo quando a situação parece bem favorável para os gringos (vide Boca e Colo Colo), os brasileiros dão um jeito de ganhar.

Benedetto teve noite PARA ESQUECER na Bombonera contra o Corinthians; VEJA

Não dá para fechar os olhos diante da supremacia nacional hoje nos torneios da Conmebol. A lógica aponta para três brasileiros nas semifinais tanto na Libertadores quando na Sul-Americana. Deveremos ter um Palmeiras ou Galo x Athletico, em uma semifinal, e do outro lado da chave o Flamengo favorito (ou  o Corinthians) contra algum argentino que não mete medo (Talleres ou Vélez, pois o River foi eliminado). Pela primeira vez na história da Libertadores, Boca e River caem juntos na mesma disputa de oitavas de final. Poderíamos ter um Inter x Santos em uma semi da Sul-Americana, mas o Peixe decepcionou diante do Táchira, abrindo assim caminho para o Colorado ir à decisão em Córdoba. Do outro lado, um São Paulo ou Ceará com boas chances diante de algum estrangeiro tradicional (Olimpia ou Nacional). Parece questão de pouco tempo para os brasileiros passarem a ser os maiores campeões de Libertadores e da Copa Sul-Americana (já são os reis da Recopa). Longe de ser pacheco (amo futebol internacional), eu faço essa constatação óbvia de que o futebol brasileiro está mesmo dominante na América do Sul.

Eu comparo o Campeonato Brasileiro com a Premier League no nosso continente. Há muitos times de tradição e com muito poder de investimento quando comparamos com os outros países na disputa. Há sim alguns clubes muito tradicionais em outras ligas nacionais, casos de Real Madrid e Barcelona na Espanha, mas há uma tendência atual de ver mais qualidade nas equipes inglesas. Boca e River, pela fama, pela história e pelos estilos, seriam mais ou menos o Real e o Barça da América do Sul. O gigante de Madri, para a surpresa de muitos, ganhou a última Champions passando por vários ingleses de excelente nível: Chelsea, Manchester City e Liverpool. O Internacional usou justamente o exemplo do Real Madrid para acreditar na remontada histórica contra o Colo Colo. Para o Boca Juniors voltar a vencer a Libertadores (não ganha desde 2007) ou para o River Plate de Marcelo Gallardo voltar a reinar na América, será mesmo preciso passar por vários adversários brasileiros, basicamente. Hoje, isso é uma missão bastante pesada e difícil para os hermanos.

O Fortaleza chegou às oitavas de final da Libertadores! O Ceará faz a melhor campanha da Copa Sul-Americana! O Athletico está de novo nas quartas de final da Libertadores, assim como um Corinthians todo remendado! Coloque-se no lugar dos torcedores dos times dos nossos países vizinhos diante de tudo isso. Talvez já estejamos vendo mesmo um “Complejo de chucho”, a tradução em espanhol que o Google me deu para aquele “Complexo de vira-lata”.

 

 

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Copa do Qatar não abre tanto espaço para técnicos estrangeiros e mostra soluções caseiras

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

O clima da Copa do Mundo esquenta após uma gorda Data Fifa com muitos jogos da Nations League e com a definição dos últimos classificados para o torneio no Qatar. E, com todos os países já definidos na disputa, é possível fazer algumas análises e reflexões mais específicas. No que se refere a treinadores, vemos 22 dos 32 times com profissionais do próprio país, incluindo a imensa maioria dos favoritos ao título: Alemanha (Hansi Flick), Argentina (Lionel Scaloni), Brasil (Tite), Espanha (Luis Enrique), França (Deschamps), Holanda (Van Gaal), Inglaterra (Southgate) e Portugal (Fernando Santos). Uma exceção é a Bélgica, que tem o espanhol Roberto Martínez como treinador em outro Mundial.

As seleções de mais tradição no futebol costumam valorizar suas escolas e relutam mais em contratar técnicos estrangeiros. Todos os países campeões mundiais vão para o Qatar com treinadores locais (o Uruguai trocou o Maestro Óscar Tabárez por Diego Alonso), exceção feita à Itália, que não se classificou mais uma vez. Reconhecida como uma das pátrias da prancheta, a Itália não terá nenhum treinador na Copa do Qatar. As nacionalidades com mais de um treinador no primeiro Mundial disputado no Oriente Médio: argentinos e espanhóis (três), croatas, franceses e portugueses (dois). O Brasil, que discute com mais seriedade a possibilidade de ter um treinador estrangeiro a partir de 2023, possui apenas Tite como representante da prancheta nesta Copa.

Hans-Dieter Flick, Lionel Scaloni, Tite, Luis Enrique e Louis van Gaal
Hans-Dieter Flick, Lionel Scaloni, Tite, Luis Enrique e Louis van Gaal Matthias Hangst/Getty Images | Getty Ima

As seleções africanas, tão acostumadas a contar com técnicos europeus e sul-americanos, estão acreditando mais em seus próprios treinadores. Aliou Cissé (Senegal), Jalel Kadri (Tunísia), Otto Addo (Gana) e Rigobert Song (Camarões) estão à frente de seus países. Apenas o veterano bósnio Vahid Halilhodzic leva sua bagagem internacional para uma seleção africana (comanda agora o Marrocos). Mas é bom lembrar que o treinador europeu de 69 anos já foi demitido de Costa do Marfim e do Japão pouco antes de uma Copa do Mundo. Alguns interinos estão ficando no comando de suas seleções, fato que vemos na Tunísia e no País de Gales (Giggs ainda é oficialmente o treinador, porém, como ele enfrenta um problema judicial, Rob Page tem dirigido a equipe). O próprio Scaloni foi ficando na Argentina e está com a maior sequência invicta dentre as seleções da atualidade: 33 jogos.     

O argentino Tata Martino corre perigo no México, onde seu trabalho vem sendo questionado. No caso de uma demissão, os mexicanos poderiam optar por uma solução caseira, o que diminuiria ainda mais o número de treinadores estrangeiros na Copa. O Japão, outro país que costuma importar técnicos, vai mesmo com Hajime Moriyasu para o Mundial. A rival Coreia do Sul, por sua vez, aposta ainda no português Paulo Bento, que naufragou quando trabalhou no Cruzeiro. A Croácia chegou à final da última Copa com Zlatko Dalic no comando e ele volta agora para o Mundial. Dentre as seleções europeias, só a Bélgica não terá treinador do próprio país. Isso é um grande sinal de que um velho tabu das Copas irá permanecer: nunca uma seleção foi campeã mundial contando com um treinador estrangeiro.

No momento em que o Brasil está vendo a volta de Felipão e Mano ao nosso mercado, que o “Malvadão” Flamengo para de ir à Europa buscar treinador e contrata Dorival Júnior e que o São Paulo entende que Rogério Ceni é mesmo o nome ideal neste momento do clube, a discussão sobre treinadores gringos ou não no país pode dar uma nova guinada. Será mesmo que Tite vai ter um sucessor estrangeiro ou o cargo dele cairá no colo de Cuca?

 


         
     

 

 

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Copa do Qatar não abre tanto espaço para técnicos estrangeiros e mostra soluções caseiras

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Argentina e Brasil estão bem mais fortes que Mbappé e até do que muitos sul-americanos imaginam

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

Posso ser chamado de resultadista por causa de dois amistosos, mas Argentina e Brasil têm tudo para brigarem pelo título mundial, sim. E não simplesmente porque bateram com autoridade a Itália (3 a 0) e a Coreia do Sul (5 a 1) nos continentes desses adversários. Há vários pontos positivos que animam os gigantes sul-americanos que foram, de certa forma, menosprezados por Mbappé, astro francês que vai tentar um bicampeonato mundial genuíno no Qatar no final deste ano. Segundo o excelente atacante do Paris Saint-Germain, como as seleções sul-americanas pouco têm enfrentado as europeias, estariam em um nível abaixo.

“A vantagem que nós, europeus, temos é que sempre jogamos uns contra os outros e temos partidas de alto nível o tempo todo, como na Nations League. Quando chegarmos à Copa do Mundo, estaremos prontos. Argentina e Brasil não têm esse nível. Na América do Sul, o futebol não está tão avançado quanto na Europa. Por isso, quando você vê as últimas Copas do Mundo, são sempre os europeus que ganham”, afirmou Mbappé, que deve perder a Bola de Ouro para o conterrâneo Benzema. Alguns dos 'colegas' de Mbappé, sobretudo argentinos, já deram a resposta.

Finalíssima: Messi arrebenta, Di María faz golaço, e Argentina atropela a Itália; ASSISTA

Messi, eleito o melhor jogador da Finalíssima, a disputa entre as campeãs de Europa e América do Sul, vê um equilíbrio entre os dois continentes em termos de seleção.

“O futebol está cada dia mais equilibrado, seja qual for o adversário. A seleção argentina está preparada para jogar contra qualquer europeu. Muitas vezes falamos sobre isso na Espanha. Quando voltávamos de uma partida de eliminatórias, dizíamos a eles: ‘Vocês não sabem como seria difícil para vocês de classificar para a Copa do Mundo se tivessem que ir jogar lá’”, falou Messi para a TyC Sports. Parceiro de Mbappé no PSG, o genial argentino valorizou demais a Itália, que foi amassada pela Argentina. “É uma loucura a Itália ter ganhado a Eurocopa e não estar na Copa do Mundo, com tudo o que significa a Itália na história dos Mundiais. Se a Itália estivesse no Mundial, seria uma das favoritas. Tiveram má sorte. Ninguém gostaria de cruzar com a Itália”, afirmou Messi.   

Nos 3 a 0 da Argentina na Itália campeã europeia, Messi deu uma boa resposta para a fala de Mbappé sobre os sul-americanos
Nos 3 a 0 da Argentina na Itália campeã europeia, Messi deu uma boa resposta para a fala de Mbappé sobre os sul-americanos EFE

Di María, outro 'amigo' de Mbappé do Paris Saint-Germain, do qual acabou de sair após sete temporadas, não deixou barato também: “Acredito que hoje (3 a 0 na Itália) demonstramos que estamos à altura dos times europeus.” O goleiro Emiliano Martínez, tão bom quanto catimbeiro foi outra voz forte em defesa do continente sul-americano. “La Paz, na Bolívia (3.600 metros acima do nível do mar), Equador com 30 graus, Colômbia onde nem dá para respirar. Eles (europeus) sempre jogam em campos perfeitos, molhados e não sabem o que é a América do Sul. Toda vez que você viaja para jogar com a seleção, são dois dias de ida e volta. Você está exausto e não pode treinar muito. Quando um inglês vai treinar na Inglaterra, em meia-hora ele está em campo. Vai para Bolívia, Colômbia ou Equador ver como é fácil”, afirmou o arqueiro do inglês Aston Villa que se firmou como titular e como um dos pilares desta forte Argentina.

A seleção de Lionel Scaloni chegou a 32 jogos sem perder, e claro que a maioria dessas partidas foram contra adversários da própria América do Sul. Só que essa marca não deve ser minimizada, assim como a liderança folgada do Brasil nas eliminatórias para a Copa do Mundo não deve ser menosprezada. A maior ameaça para a invencibilidade da Argentina talvez seja mesmo o duelo contra a seleção brasileira no dia 22 de setembro, jogo que será realizado por determinação da Fifa (a entidade exige a partida que faltou no qualificatório para o Mundial). A equipe de Messi busca o recorde de jogos sem derrota da Itália de Mancini (37 partidas) e pode atingir essa marca no seu último confronto da fase de grupos da Copa, contra a Polônia, uma seleção europeia assim como a Estônia, a próxima adversária da Argentina. É mais fácil perder da Estônia ou em algum jogo fora na América do Sul?   

O divertido e articulado Loco Abreu, ex-atacante da seleção uruguaia, disse que Mbappé deveria fazer mais “pesquisas na Wikipédia” antes de falar, uma direta após a polêmica fala do francês sobre o nível do futebol sul-americano. Lautaro Martínez, atual atacante da Argentina, defendeu sobretudo as seleções de seu país e do Brasil. “Argentina e Brasil têm jogadores de grande experiência e alto nível. O Brasil também tem um elenco onde a maioria joga na Europa. Me pareceu que foi uma afirmação injusta (do Mbappé). Mas tudo bem, estamos nos preparando e vamos pensar no que está por vir, que é a Copa do Qatar.”

Se é verdade que a Europa vence todos os Mundiais de seleções desde 2006 e que só a Argentina em 2014 conseguiu ir a uma final sem ser uma equipe europeia, é verdade também que o Brasil assumiu a liderança do ranking da Fifa, desbancando a Bélgica depois de muito tempo. Tite parecia perdido e estagnado com sua seleção ao perder a Copa América em casa para a Argentina, mas jovens jogadores de beirada de campo, como Antony, Raphinha e Vinícius Junior, ajudaram a oxigenar o time e a melhorar a produção ofensiva. A própria Champions League última foi uma prova da força brasileira no momento. No lado campeão do Real Madrid, Casemiro, Militão, Rodrygo e Vini Jr. (apenas Marcelo não entrou na decisão). No lado vice-campeão do Liverpool, Alisson, Fabinho e Firmino (apenas o atacante ficou na reserva e não faz uma temporada de altíssimo nível).

A nacionalidade dominante na final da Champions foi a brasileira, e o gol do título foi marcado por um jogador sub-21 do país que tem tudo para ficar entre os dez melhores do planeta nas premiações individuais da temporada (disputar a Bola de Ouro não é mais coisa apenas para Neymar dentre os brasileiros). Na decisão em Paris envolvendo um time espanhol e um clube inglês, jogaram apenas três atletas nascidos na Espanha (Carvajal, Ceballos e Thiago Alcântara, que tem sangue brasileiro) e só dois mesmo da Inglaterra (Alexander-Arnold e Henderson). O técnico Carlo Ancelotti ajudou bastante a seleção brasileira ao evoluir alguns jogadores, sobretudo o titular Vinícius Junior e o reserva Rodrygo. Tite já agradeceu em entrevista ao vitorioso treinador italiano pela força que deu ao melhorar seus atletas da seleção. O momento do Brasil é muito bom, assim como é o da Argentina.  

Vinícius Júnior, autor do gol do título do Real Madrid na Champions League, deve figurar entr os melhores da Bola de Ouro e fortalecer o Brasil na Copa do Mundo
Vinícius Júnior, autor do gol do título do Real Madrid na Champions League, deve figurar entr os melhores da Bola de Ouro e fortalecer o Brasil na Copa do Mundo Twitter Oficial Real Madrid

Pelo chaveamento da Copa do Mundo, talvez tenhamos uma semifinal entre Argentina e Brasil, o que poderia ser visto como o maior embate entre as duas rivais na história. Pela lógica e pela qualidade técnica, a França seria a finalista para derrubar uma dessas potências sul-americanas. O Mundial do Qatar ainda não começou, mas a disputa América do Sul x Mbappé já está pegando fogo. Temos um europeu favorito contra dois fortes postulantes do nosso continente. Não sei qual vai vencer, mas quem está perdendo até aqui é o vestiário do Paris Saint-Germain. Mbappé fez há poucos dias a escolha mais difícil de sua carreira e também soltou sua maior bomba desde que virou astro global. Já estou vendo o que vão dizer para ele se os sul-americanos forem mesmo os melhores do mundo: "Receba!"

 

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