A arte de fazer o simples
Em tempos de exposição midiática e exibicionismo, muitas vezes fazer o simples parece ultrapassado, demodê ou até no jargão esportivo jogar para não perder. Mas será que é isso mesmo?
O atleta tem várias facetas e a mais espetacular é a competência para analisar seu momento. Ao falar com um atleta muitas vezes impressiona sua auto análise, sua verdade e sua busca pela evolução.
Ao ver o Novak Djokovic voltar para o seu técnico Marian Vadja, que o colocou no patamar de melhor do mundo depois de treinadores badaladíssimos - como Becker e Agassi -, a pergunta veio à tona: será que voltar às origens no meio da crise ajuda? Será que não seria mais adequado ele contratar mais um figurão? Não será que o Vadja já passou tudo que tinha pra passar?
Vejo uma decisão muito interessante. Quando vamos crescendo no nosso negócio e no tênis não é diferente (para mim é uma empresa, um negócio é uma curtição) precisamos lembrar nossas origens, o que deu certo, o que nos fazia bem quando estávamos no auge. O Djokovic fez exatamente isso. Nos seus melhores momentos era rápido, forte mentalmente, tinha sangue nos olhos e não entregava um ponto. De um tempo pra cá, ele perdeu isso.
Ao invés disso, sua relação com o Agassi foi mais midiática que "tenistica". Seus treinos mais conversados e discutidos que eficientes. De ser o protagonista da relação virou o jogador treinado pelo Agassi. Em poucas palavras, o protagonismo mudou de lado e tirou a pouca confiança que ele ainda tinha. Contratou mal.
Muitos acham que dar um passo atrás é perder espaço. No tênis não é.
Mais uma vez o sérvio nos dá uma aula de humildade. Nos últimos anos ele vem tendo problemas físicos e pessoais. Não consegue focar apenas na profissão, no dia a dia do tênis. Percebeu seus erros e por isso fez a mudança radical.
A pergunta agora vem se ele vai conseguir ser o mesmo jogador do passado. Infelizmente essa resposta nem eu nem o Vadja vamos conseguir dar. Essa só ele mesmo com sua dedicação diária e sua fome.
Muitas vezes fazer o simples e aceitar seu erro te traz outra vez para o caminho da vitória.
Fonte: Fernando Meligeni, blogueiro do ESPN.com.br
A arte de fazer o simples
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